
Gente de litaratura não pode se prender a uma boa narrativa. Exige-se beleza de forma (odeio termos vagos como “beleza”... mas fazer o quê??). O Saramago faz isso muitíssimo bem. Em outro plano, gosto da forma como o Pressfield se comporta com a pena na mão... Isso me remete à “Tempos de Guerra” onde este último narra de forma envolvente as peripécias de Alcebíades numa Grécia já morta.
...do tempo
“... As estações fluem tão iguais, que um homem não se dá conta das alterações que sofreu até observá-las no aspecto de um camarada que ele não viu nos anos que passaram... Como é que a barba do amigo pudera ficar tão grisalha e aquelas cicatrizes todas apareceram nos seu membros? Perguntas sobre irmã, mãe, esposa ou filho, provocam o mesmo silêncio como resposta. Logo cessavam todas elas. Um fitava os olhos do outro e lia naquele vidro a perda que também ele trazia nos seus, embora não a visse...” (pgs 127-128)
...do soldado
“...Sua vida é dominada pelos líquidos. Água, de que precisa para não morrer. Suor, que lhe pinga da testa e lhe escorre pelas costelas. Vinho, de que necessita ao final da marcha e no começo da batalha. Vômito e mijo. Sêmen, que nunca lhe falta. O penúltimo, sangue, e por fim, lágrimas.” (pg 99)
Tudo bem. O Steven Pressfield não é nem nunca será um Joyce. Mas ele transcende a mera condição de “escritor pop” ao construir suas tramas e oferta-las em uma embalagem mais ou menos cuidadosa. O Dan Brown não... Ele é meramente um contador de histórias. E mesmo assim tenho lá minhas duvidas. O “Código” é uma boa história. Vamos e venhamos: tem uma cadência legal. Mas é só isso e pronto. “Anjos e Demônios” ja é meio morno. “Ponto de Impacto” e “Fortaleza Digital” são duas grandessíssimas bostas sob todos os ângulos. Em síntese: O Brown tá fodido. De bobeira achou uma trama envolvente no “Código” e agora vai ter de parir algo parecido. Alias, acredito que ele nem perde um minuto de sono se sonha todos os dias com sua conta bancária que aumente de forma proporcional ao numero de discussões idiotas em torno do tema. ...E eu que achava que esse tipo de coisa estava superada depois de “A Última Tentação de Cristo” e “Je Vous Salue Marie”... (longo suspiro).
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