quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Tocado...

Não me canso de olhar a imagem... Querendo relativizar vou em meus arquivos e procuro fotos antigas do mesmo palco. É a Praça do Rock. Procuro e acho outras fotos de anos atrás. No mesmo palco, no mesmo local, olho performances antigas. Apocalipse, Insanidade, putas velhas todos... e aí retorno pra foto do Arlequim Rock'n'Roll Band agora em 2007 e fico aqui sentado, só olhando... Quase não reparo na figura enorme que fica a esquerda (de quem fita) empunhando um Stratocaster. Fico a olhar os outros meninos e menina da banda. Sinceramente, fico tocado. Vejo o Diego orgulhoso ao centro. A Samara, solta, dançando com a Tagima T-Zero (que ela PENSA que vai dar o "ganho...")... Lá atrás, escondido por não sei quantos pratos (que ele começou a comprar) tá João Hurricane Neto... São donos do palco... São donos da Praça... Muito a vontade estão vestidos de Arlequins. Olho e fico emocionado pois sei o tamanho da estrada que esses meninos e meninas percorreram. Venceram a tudo, inclusive a sí próprios. Vocês não viram o que eu vi nesses meses... Não viram a ansiedade do Diego na compra do seu contrabaixo. Sua luta interna entre a responsabilidade de arrimo de família de orçamento estreito e sua paixão pela música. Fez das tripas coração e pegou o Stagg. Não conhecem as marcas nos móveis da casa do João, todos marcados pelas baquetas, já que nao tinha bateria pra exercitar (mandou fazer um modelo de madeira pra treinar as viradas). Não viram a Samara de guitarra em punho, trancada na biblioteca com a luz apagada, de óculos escuros, tentando reproduzir um ambiente de palco e passar as músicas sem luz no braço da guitarra. Não tiveram de suportar a "chicotada" do meu olhar raivoso quando duma passagem mal feita em alguma música. Não carregaram instrumentos, caixas e tambores nas costas. Não assistiram aos meninos e menina tremerem convulsivamente antes da primeira apresentação (aquela da chuva, lembram?). Não perceberam seus olhares de dolorida incompreensão ante a miríade de nuances que a sonoridade de uma banda de rock deve levar em conta na definição de seus timbres. Não sentiram a frustração e o medo quando algo mais elaborado, trabalhoso, era definido como parte do repertório. Não partilharam da intimidade alegre quando era vencida mais uma música nos ensaios.
Olhando a foto tudo parece muito distante. Eles chegam ao palco, montam seus equipamentos, testam tudo como veteranos encascorados. A atenção aos detalhes tímbricos, coisa típica de veteranos estradeiros, já indica a direção que tomarão. Puta que o pariu. Essa é a minha banda. O pronome não indica posse. Indica PARTICIPAÇÃO. O sofrimento desses meninos e meninas me deixa tranquilo no palco. O ferro é forjado na porrada mesmo. Gente se faz do mesmo jeito. Uma banda de rock de vergonha, também. Repito. Essa é a minha banda... não no sentido de posse, o pronome... Na verdade é um realce ao fato de poder dizer com o orgulho de quem pouco tem mais a ensinar a esses "palhaços" e "palhaça": EU TOCO NO ARLEQUIM ROCK'N'ROLL BAND... Uma banda formada só por putas velhas...

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