sexta-feira, maio 18, 2007

“...alô papai, alô mamãe... ponham a vitrola pra tocar...”

O Pedrão era uma figura. Encontrar Pedrão na rua era o mesmo que dar de cara com o Elo Perdido, atentando para a raridade do achado e não para uma suposta relação com a estética corporal dos primatas. Muito antes pelo contrário, o Pedrão carregava um certo it a despeito das olheiras e da pele de pergaminho-de-mil-anos-atrás, produto de uma dieta a base de coca-cola e café. Pedrão era o que se convencionou chamar de “estudante profissional”. Enquanto os mortais da mesma faixa etária colecionavam selos, namoradas ou discos, o moço em apreço colecionava vestibulares. Era aquele cara com determinada parte da anatomia feita de Adamantiun (vocês não lêem “comics”, ora bolas?!?!?!?!) fazendo o Wolverine parecer um boneco de isopor. Pedrão, enfim, é o C.D.F típico. Imagine uma Universidade nas capitais mais próximas e o curso mais concorrido, tava lá o Pedrão na lista dos aprovados, e sempre logo ali, junto da pole position.
Anos fazem perdi o Pedrão de vista. Quero crer que a essas alturas da procissão ele já tenha se aquietado em algum banco de universidade, quiçá recebido “o grau”.
Passados os dias, Cajazeiras volta a respirar normalidade, o Curso de Medicina parecendo já coisa nossa desde os tempos de Mãe Aninha. Fim de festa, varrido o último confete, é hora de juntar à ressaca algumas reflexões acerca do funcionamento do citado curso – uma vitória justamente decantada em odes e sagas. E o que me vem ao juízo, de imediato, é a figura do Pedrão. Sim, pois não duvidem, os “Pedrões” vão acorrer em desabalada carreira às Terras do Açude Grande, fauces escancaradas, babando por sua vaga nas carteiras virgens do novo curso. A eles deverão se contrapor na rinha os nossos próprios “Pedrões”. Sem me arriscar a discutir nesse esquálido texto o caráter duvidoso do vestibular e sua ação excludente, é de bom tom lembrar que a peneira tem malhas finas quando se remete ao filtrar de candidatos a determinadas graduações. Uma concorrência brutal, que qualquer secundarista da capital conhece de frente-e-verso, vai ser a tônica dos certames. E aí fica o caso de saber a quantas andam nossas escolas preparatórias, nossos “terceiros anos”, nosso ensino secundário, pois. Não que nossos estudantes secundaristas sejam mais incapazes que aqueles que depois das aulas vão a orla marítima tomar água de coco e contar marolas. Não que nossos colégios não estejam à altura dos liceus engastados em outras praias, digo, açudes. Só que agora a medida mudou de escala. O “Estilo Pedrão” é o padrão de mensuração.
Tenho certeza que já tem gente de olho no assunto, preocupado com o tema. Por mim acho que devemos começar a nos rebolar desde já. Considerarei esse Curso de Medicina realmente nosso, a cara do Sertão, quando puder contar um razoável número de Sertanejos a freqüentar aulas e laboratórios. E não me venham com esse negócio de cotas, como ouvi ventilado numa esquina. Nossos garotos e garotas não precisam de institucionais manobras paternalistas, empurrãozinho oficial que, pelo mínimo, só serve mesmo pra perpetuar distorções. Temos de colocar a disposição da meninada todo o arsenal disponível ao Pedrão e que dele fez essa máquina mortífera das seleções. A despeito da baixa demografia de neurônios ainda em atividade em meu juízo, possuo a experiência necessária para estar amarelo de saber que esse tipo de formação “vestibu(r)lesca” tangencia o construir do Cidadão, passa ao largo dos ensinamentos necessários à plena compleição do Homem, apto a viver em Comunidade. Esse tipo de pedagogia privilegia a produção de técnicos às toneladas, homens e mulheres de senos e co-senos, de integrais e derivadas. Não perde o sono com a formação de pensadores de arguta visão das coisas do social, do político e do cultural. Mas, nas palavras do meu compadre Fábio Dantas, é essa a “batida do bumbo”. Ignora-la é ficar de fora do forró que se destampa em nosso próprio terreiro. É dar mole ao Pedrão que, na hora da jurupoca piar, só precisa de uma caneta e uma folha de respostas. Espertos fiquemos, então.

Um comentário:

Patrick Gleber disse...

Olá professor,

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