quinta-feira, junho 04, 2009

Interdição Junina



Me chega as “oiças” dia desses a existência de um projeto de lei que já estaria pronto a se submeter ao crivo do plenário legislativo paraibano, onde se propõe a proibição da contratação de duplas sertanejas e grupos de Axé como atrações aos folguedos juninos nos limites do estado. A intenção seria preservar o ambiente cultural original em que se inserem as festividades. Quero crer que a interdição se limita aos arraiais abertos, aqueles ligados ao fomento público. Respalda ainda o leque de argumentação em defesa da intenção, as medidas tomadas em Olinda, por exemplo, que em busca da preservação do tradicional momo, vetou a execução de Axé e correlatos.
Passado o susto inicial ante a ingerência do Poder sobre a lide artística, termino me apanhando um entusiasta da proposta. Já defendi aqui que o poder público não pode se constituir em promoter, se enfronhando em eventos de cunho meramente lúdico. Toda e qualquer forma de lazer e entretenimento onde se detecte traços do erário público tem de trazer a reboque contribuição, por mais fugaz e tangencial que seja, ao cultural e, porque não, ao educativo. É aí onde entra a defesa do tradicional popular mesmo que o “popular” esteja cagando e andando pra tradição. Claro que é de se preservar o direito da iniciativa privada de contratar o que bem entender do amplo menu de mediocridades e mal gosto, trancando a opção dentro de um clube ou casa de espetáculos com acesso pago. Quem quiser sua dose sazonal de porcaria que fique a vontade para desembolsar valores para tal. Mas usar o meu parco dinheirinho, na forma de impostos, pra financiar alienantes e suínos saraus é um atentado a mim e a você, leitor(a), enquanto contribuintes.
De forma que me é simpático o conceito preliminar do citado projeto. Mas, me pergunto, se ao determinar o Axé e a Música Sertaneja como alvo da interdição, não estaríamos sendo injustos e até certo ponto bairristas. O perigo mora ao lado, e não precisamos ir até o interior de São Paulo, Goiás ou Salvador para detectar vetores de deturpação de nossas festas juninas. Digo isso porque nem sob lancinante tortura vou admitir o pacote de merda em que se constitui o tal Forró Eletrônico como música nordestina. E vou mais longe. Prefiro mil vezes ouvir uma dupla sertaneja a submeter minha paciência e dignidade ao suplício dessas bandinhas medíocres, suas musiquetas apelativamente ridículas e nomeações fruto da imaginação de algum jumento com retardo mental (tem uma que deveria se chamar “Boing de Bosta”). Por mais embalada que estejam as performances dessas agremiações musicais em fortes apelos cênicos (iluminação feérica, lasers, telões, etc), ainda é perceptível pra quem tem mais de dois neurônios a estupidez do que se vende.
Pelo exposto, alguém pode pensar que entro em clara contradição já que defendo veementemente a diversidade do carnaval de Cajazeiras onde se tem as Praças Alternativas, destaque ao espaço do Rock. Não seria o caso deste escrevinhador provinciano defender um expurgo artístico também no carnaval? Não, não seria. O carnaval não tem, na amplidão do folclore paraibano, a envergadura das juninas. Algumas inovações mais ousadas caberiam muito bem na festa de momo. Bem diverso dos “festejos de fogueira”...
De forma que vamos ver no que fica. De uma coisa tenho certeza: vamos continuar oferecendo os palcos principais dos nossos arraiais ao falso forró de luminosa produção deixando a massa feliz e dócil, pronta a ser tangida de um curral pra outro.

ps – Uma sugestão: poderíamos usar os estádios de futebol para abrigar as festas movidas pelo Forró Eletrônico. Economizaríamos na praça de alimentação visto a presença do gramado...

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