Quer me deixar louco de fúria? Autocomiseração. Peninha de si próprio. Isso é uma coisa bem latina, passionais que somos. Como por aqui se adora dramalhões, pra se tentar uma ceninha íntima de autocomiseração é um pulinho. Na verdade a aceitação dramática de toda merda que cai em nossas vidas é uma forma malandra que o brasileiro achou pra justificar sua irresponsabilidade diante das coisas. Fica mais fácil lidar com as conseqüências ao adotar uma postura de fácil aceitação. Olha-se de lado com olhar bovino, depois cravam-se as bilas no chão, dá-se um suspiro de se ouvir em Istambul e larga o clássico “...é isso mesmo...”. Uma ou outra lágrima de crocodilo também faz parte do script.
Esse tipo de postura na verdade é fruto de um problema mais grave que assola o brasileiro típico: auto-estima. Em verdade, a falta dela. E o curioso é que esse traço de caráter convive bem demais com outra mania bem nacional que é a de “se dar bem” a qualquer custo. Entenda-se o “se dar bem” como alcançar os valores burgueses ocidentais que normalmente passam por um desenfreado consumismo que leva a posse e a um provável escalar em direção ao pico da pirâmide social. Como poucos conseguem, assume-se o autoflagelo logo seguido da autopiedade.
Isso gera mitos cretinos calcados no louvor ao sofrimento como aquele de que o nordestino é um bravo. Se a bravura reside no domínio de uma ecologia extremamente hostil, é de se louvar a batalha. Mas o triste é que a frase também nos remete a aceitação do descaso e da indiferença dispensado ao “povo da caatinga” pelos que deveriam por ele velar. Fica então o conformismo justificado pelo fato do “querer de Deus”. Ninguém então é agente de sua própria vontade. Falta o orgulho do próprio “eu” que levaria a uma enérgica reação à injustiça e às pequenas opressões que se abatem sobre todos. Em suma, o brasileiro não gosta dele mesmo.
O meu problema é justamente o contrário. Sofro de alto-estima. Com “L” mesmo. Sou louco, completamente apaixonado por mim. Na verdade a coisa é tão grave que não me caso comigo por não me achar a altura de mim. Me acho o “rei da cocada preta”, a “última água mineral do deserto”, as “pregas da burra de Maria Bonita”, a “bala que matou Kennedy”. Não importa se sou barrigudo, mal-humorado, a bunda cheia de brotoejas, uso as vírgulas nos lugares errados e tenho ao invés da boca um cinzeiro. O bom da “alto-estima” é que você não liga nem um pouco para o que os outros pensam de você. Você é você e jacaré é um bicho.
Não é o caso de espargir arrogância e condescendência, longe disso. Simplesmente gostamos do que traçamos pra nossa vida e nada abala as alegrias das pequenas vitórias do cotidiano. E pra se sentir feliz não é necessário sair por aí alardeando sobre você. Se fizer isso você não tem “alto estima”. Você precisa da aprovação e do reconhecimento alheio, boçal que é em busca de uma claque. Não, não e não. “Alto estima” a gente guarda pra hora de dormir, de colocar a cabeça no travesseiro. É ali onde ela se manifesta proporcionando um sono justo e merecido. Ser feliz consigo próprio. Estar bem diante dos compromissos cumpridos. Ficar em paz por responder da melhor forma possível às demandas que a comunidade lhe impõe.
Quisera fosse essa a tônica do existir aqui nos limites da taba tupiniquim. Quisera o brasileiro gostasse tanto de si próprio ao ponto de gritar um ruidoso “basta” aos desajustes da vida nacional. Continuaríamos sendo o povo alegre que somos mas com o benefício da capacidade de selecionar sempre o melhor para si, a despeito de nossas limitações materiais.
Gostar de si mesmo, em doses expressivas, não anula a aceitação de que somos imperfeitos e que a medida de tudo é o Criador. Somos pecadores e todos temos nossos esqueletos no armário. Não é o fim do mundo. Façamos nossa parte começando por querer bem a nós mesmos. Quanto aos pecados, confiemos todos na infinda capacidade de perdoar tão própria a Entidade que nos criou a sua imagem e semelhança.
ps – nunca os pronomes foram tão explorados...Que cara de pau a minha...
Isso gera mitos cretinos calcados no louvor ao sofrimento como aquele de que o nordestino é um bravo. Se a bravura reside no domínio de uma ecologia extremamente hostil, é de se louvar a batalha. Mas o triste é que a frase também nos remete a aceitação do descaso e da indiferença dispensado ao “povo da caatinga” pelos que deveriam por ele velar. Fica então o conformismo justificado pelo fato do “querer de Deus”. Ninguém então é agente de sua própria vontade. Falta o orgulho do próprio “eu” que levaria a uma enérgica reação à injustiça e às pequenas opressões que se abatem sobre todos. Em suma, o brasileiro não gosta dele mesmo.
O meu problema é justamente o contrário. Sofro de alto-estima. Com “L” mesmo. Sou louco, completamente apaixonado por mim. Na verdade a coisa é tão grave que não me caso comigo por não me achar a altura de mim. Me acho o “rei da cocada preta”, a “última água mineral do deserto”, as “pregas da burra de Maria Bonita”, a “bala que matou Kennedy”. Não importa se sou barrigudo, mal-humorado, a bunda cheia de brotoejas, uso as vírgulas nos lugares errados e tenho ao invés da boca um cinzeiro. O bom da “alto-estima” é que você não liga nem um pouco para o que os outros pensam de você. Você é você e jacaré é um bicho.
Não é o caso de espargir arrogância e condescendência, longe disso. Simplesmente gostamos do que traçamos pra nossa vida e nada abala as alegrias das pequenas vitórias do cotidiano. E pra se sentir feliz não é necessário sair por aí alardeando sobre você. Se fizer isso você não tem “alto estima”. Você precisa da aprovação e do reconhecimento alheio, boçal que é em busca de uma claque. Não, não e não. “Alto estima” a gente guarda pra hora de dormir, de colocar a cabeça no travesseiro. É ali onde ela se manifesta proporcionando um sono justo e merecido. Ser feliz consigo próprio. Estar bem diante dos compromissos cumpridos. Ficar em paz por responder da melhor forma possível às demandas que a comunidade lhe impõe.
Quisera fosse essa a tônica do existir aqui nos limites da taba tupiniquim. Quisera o brasileiro gostasse tanto de si próprio ao ponto de gritar um ruidoso “basta” aos desajustes da vida nacional. Continuaríamos sendo o povo alegre que somos mas com o benefício da capacidade de selecionar sempre o melhor para si, a despeito de nossas limitações materiais.
Gostar de si mesmo, em doses expressivas, não anula a aceitação de que somos imperfeitos e que a medida de tudo é o Criador. Somos pecadores e todos temos nossos esqueletos no armário. Não é o fim do mundo. Façamos nossa parte começando por querer bem a nós mesmos. Quanto aos pecados, confiemos todos na infinda capacidade de perdoar tão própria a Entidade que nos criou a sua imagem e semelhança.
ps – nunca os pronomes foram tão explorados...Que cara de pau a minha...
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