quinta-feira, fevereiro 11, 2010

anticrônica de carnaval

“De forma que, caro(a) leitor(a), aí está. É Carnaval. É Carnaval e ...”
Não, não... Assim não vai dar pra começar a crônica. Péra... Deixa eu tomar um outro café (esse é o décimo oitavo)... Pronto, vamos lá... Agora vai...
“Prezado(a) leitor(a), eis que chegam aos ouvidos o trinado chamativo dos clarins ressoando eco nos confetes que ...”
Mas que merda é essa??? Estarei eu ficando doido ou colocaram alguma coisa nesse café. Tá certo que eu escrevo ruim, mas pelo amor ao Momo, assim também já é demais. Pompa vagabunda a disfarçar metáfora cafona. Arre, que essa crônica não sai nem a fórceps. Deixa acender um cigarro ( o septuagésimo segundo) que a coisa acontece nem que seja por força da nicotina. Lá vai:
“Referenciais. Para nós, a definição de um norte é tão necessária quanto o ...”
ÊPA... Eu conheço isso... Mas que coisa... É a abertura de uma crônica publicada em 2003... Não cola e eu jurei que não iria mais repetir textos. Literatura barata publicada uma vez já é coisa dolorosa. Mais que isso se configura crime hediondo. Deixa quieto. Pela barriga do Rei Momo, essa crônica sai ou não sai? Vamos relaxar. Levantar da frente do micro, deitar-me na rede da área e deixar a coisa acontecer. As idéias virão, tenho certeza... Licencinha que lá me vou pra já voltar.
...
...
...
Pronto. Voltei.
E não voltei do jeito que fui. Saí da frente do teclado, em busca da rede, sem a menor inspiração. Volto ainda sem um fiapo inspirador e ainda com sono, visto o belíssimo cochilo que quase se transforma em estado de coma, tão esgotado ando. Complicado, e ficando pior, nada me apetece no alfabeto. Mas o que diabos tem a ver com meu humor você que desembolsou a compra do jornal? Portanto vamos deixar de chiliques e escrever que o leitor quer mesmo é ler (Meu Deus... eu não escrevi essa última frase...não era eu...estava possuído pelo Paulo Coelho...o quêêêê? Não morreu ainda?!?!?!).
Certo. Já se foi uma lauda nesse puxa-encolhe e nada da crônica de carnaval. Pôxa, será que não dava pra escrever algo sobre, digamos, as modificações implementadas pela Receita Federal na declaração de renda 2010?? Sinceramente, tenha dó. O carnaval já a dar as caras, tá todo mundo cagando-e-andando pro Leão ou pra qualquer coisa que não tresande folia. Portanto, não tem choro nem vela, o tema é carnaval. E não é uma reportagem. Tem de ser uma crônica. Figuras de linguagem bonitinhas, surpresa parágrafo sim outro não, descontração e leveza. Uma crônica. Uma crônica carnavalesca. Confetes, serpentinas, clarins, amores findos nas cinzas da quarta-feira. Homem, quer saber? Não vai ter crônica de carnaval e pronto. O Zé Antonio pode me botar no olho da rua. Não vai ter crônica e morreu-maria -preá.
Quem diabos ainda usa confetes e serpentinas? Quem ainda sabe o que é um clarim? “Amor findo na quarta-feira?” Ora, me poupe. Hoje em dia acasala-se (ia usar termo mais chulo, confesso) todos os dias da folia sem o menor pudor, sem o mais pálido laivo de romantismo. Também pudera. Já ouviu as músicas que se espalham do alto dos trios e/ou dos palcos? É meu caro... É o “democrático” carnaval de rua desenhado em Salvador e que tomou o pais de assalto. “Carnaval da Igualdade”, dizem os tolos. Sim... Conte outra... Tenho certeza que o assalariado da periferia compra camarotes ou tem grana pra pagar o abadá e a mamãe-sacode (o que eu chamo de “kit mau-gosto”... ) que dá acesso ao Chiclete com Banana ou a alguma imitação vagabunda do que já é meio azedo.
Esse ano não vai ter crônica de carnaval. Mas não ligue, amigo e amiga. Pode não ter a crônica, mas que carnaval vai ter, ááh, isso vai... E deixo aqui meus votos de muita alegria aos que tomarão as ruas. Brinquem e não tenham pena da felicidade na hora de espargi-la. Aos que buscam o recolhimento, deixo idênticos votos, mesmo que mais serena a alegria. E paz. Muita paz. Que cheguemos na Quarta-Feira de Cinzas no mesmo número que adentramos ao Zé Pereira. Pelo meu lado, prometo que vou me esforçar. Vou procurar ir ás praças entendendo que os tempos são outros e que no cômputo final o que realmente importa é estar bem consigo e com todos... Mas que não vai ter crônica de carnaval, não vai mesmo...

(publicação in Gazeta do Alto Piranhas, fevereiro de 2010)
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