domingo, fevereiro 21, 2010

Bartimaeus

- Seu nome é Bartimaeus. Ele é um Djinn com 5ooo anos e largos poderes a despeito da existência de outras entidades mais operosas. É capaz de ver em todos os sete planos e não somente, como nós humanos, apenas um. Tem um profundo desprezo pelos magos que dominam o Império Inglês (séc XXI) constituindo e manipulando o aparelho político-administrativo. Na verdade os magos dependem desses “demônios” (um termo que o Bartimaeus detesta). Toda magia desta elite consiste na capacidade de invocar os seres dos outros planos (demônios, diabretes, afrits, marids, foliots e demais tantos) e colocá-los à seu serviço, outra coisa que o Bartimaeus odeia em toda sua “essência” (ele não tem corpo físico). Sua relação com o nosso “plano” (o primeiro) se faz através da capacidade que os djinnis tem de assumir qualquer forma. O Bartimaeus, por exemplo, adora transmutar-se a forma de um garoto egípcio da época das pirâmides (apesar de não desprezar a forma de moscas, aranhas, leopardos, gárgulas e um minotauro hilário). Junto a Nathaniel, um pequeno aprendiz de mago que aos doze anos o invocou, o Bartimaeus vai encarar aventuras divertidíssimas.
Esse é o universo que o Jonathan Stroud nos apresenta na “Trilogia de Bartimaeus”. Grosso modo a obra pode ser classificada como literatura de fantasia dirigida ao público infanto-juvenil. Não concordo. Essa obra pode ser lida por qualquer um. A depender de sua capacidade de discernimento, do “plano cultural” em que você se insere, poderá perceber bem mais que uma aventura mágica. Me chama atenção as sutis criticas sociais e alfinetadas no domínio cultural do establishiment. E como não poderia deixar de ser, essas sutilezas partem do próprio Bartimaeus que nos encanta e mata de gargalhadas com suas notas de rodapé. Isso mesmo. Quando a narrativa é levada pelo Bartimaneus pode esperar notas de rodapé a granel sempre prometendo ataques convulsos de riso pela fina ironia que utiliza. O demônio (desculpa, Bart...digo, djinn) é irônico, perspicaz e destila um desprezo ácido por tudo que seja humano, inclusos aí os magos e seus aprendizes. Ataca o egoísmo, a vaidade, e mesquinhez dos Homens que normalmente desagua em cíclicos conflitos. Nada lhe escapa, nem mesmo o seu amo, o aprendiz Nathaniel que do Harry Potter, graças aos deuses, não tem nada.
Claro que fora de contexto as coisas perdem impacto. Assim, para saborear a verve cortante do Bartimaeus tem-se de ler a obra. Mas vou tentar reproduzir algumas notas de rodapé de autoria do djinn. São algumas dentre as centenas a disposição do seu humor. Com a palavra o Bartimaeus:

(sobre a capacidade de assumir várias formas)

7 Para aqueles que estejam se interrogando, não tenho qualquer dificuldade em me tornar uma mulher. Tampouco um homem, mesmo agora. De certa forma, acho que as mulheres são mais astutas, mas não quero falar disso agora. Mulher, homem, toupeira, larva — são todos iguais, para que conste, com exceção de umas ligeiras variações na capacidade mental.”

(do turismo e seus efeitos colaterais)

11 Todos andavam fazendo a mesma coisa, deslocando-se em ônibus (ou, dado que muitos deles eram abastados, alugando jatos) para visitar as grandes cidades mágicas do passado. Todos arrulhando e soltando ahs ante as vistas famosas — os templos, as terras natais de magos de renome, os locais onde tinham conhecido fins horríveis. E todos prontos para arrancar pedaços de um santuário ou esquadrinhar os bazares do mercado negro na esperança de conseguirem adquirir artigos de feitiçaria por uma pechincha. Não tenho nada contra o vandalismo cultural. Só o acho muito degradante.””


(sobre assumir a forma humana)

”...A velha dor recomeçara, latejando no meu peito, estômago e ossos. Não era saudável estar encerrado dentro de um corpo durante tanto tempo. Como é que os humanos conseguem agüentar sem enlouquecer por completo, acho que nunca o vou saber.
21 Por outro lado... talvez isso explique muita coisa.””


(sobre as limitações da percepção humana... olha a frase de fechamento da nota....kkkkkk)

“””56 Isto é, vários níveis conscientes. De um modo geral, os seres humanos apenas conseguem gerir um nível consciente, com dois mais ou menos inconscientes embaralhados lá por baixo. Imaginem assim: eu poderia ler um livro com quatro histórias diferentes sobrepostas umas às outras, e lê-las todas com o mesmo movimento dos olhos. O melhor que consigo fazer, para vocês, são notas de rodapé.”””

(sobre a capacidade de transmutar-se)

60 Que seriam provavelmente poucas. Basicamente, por experiência, é possível avaliar a inteligência de um djinn pelo número de formas que ele ou ela gosta de aparentar. As entidades desenrascadas como eu não têm limite para as formas que assumem. Quanto mais, melhor, na verdade: sempre torna a nossa existência ligeiramente menos monótona. Inversamente, os verdadeiros broncos (a saber, Jabor, utukkus, etc.) preferem apenas uma, e é normalmente aquela que já passou de moda há milênios. As formas com que estes utukkus se revestiam eram moda nas ruas de Nínive em 700 a.C. Quem é que hoje em dia anda por aí como um espírito com cabeça de touro? Precisamente. Está totalmente ultrapassado.””

(sobre o uso dos djinnis ao longo da história...olha só a ultima frase... é a cara do Bartimaeus)

“””69 Quanto menos poderoso é o ser, mais rápido e fácil é chamá-lo. A maioria dos impérios mágicos emprega alguns magos especialmente para fazerem aparecer cortes inteiras de diabretes a curto prazo. Só os maiores impérios têm poder suficiente para criar exércitos de entidades superiores. O exército mais formidável alguma vez já visto foi reunido pelo Faraó Tutmósis III em 1478 a.C. Incluiu uma legião de afrits e um grupo heterogêneo de djinnis superiores, do qual certamente o mais notável fui... Não, a modéstia impede-me de continuar.""


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