terça-feira, junho 29, 2010

O Clã e o Brasil (escrito em um momento de tempestuosa fúria) --- REPOSTANDO

Esse post foi originalmente publicado em junho de 2008. A semelhança das situações me permite repeti-lo em forma e conteúdo. É que nesta edição do Xamegão as meninas do Clã Brasil cá estiveram, um bálsamo a nos preparar para o rojão de porcarias que com certeza viria pela frente (raríssimas e isoladas exceções). Mas o que me motiva a puxar o texto pra frente do blog foi a reação a performance da grupo. O Rubens Ramon me falava que, dia seguinte, dizia-se horrores sobre o Clã. "Como é que se contrata uma banda ruim dessas pro Xamegão???", era o de menos que se ouvia em um grupo de populares. Outra pessoa do meu conhecimento me falava da decepção de sua empregada (vou acabar com esse negócio de "secretária". É "empregada" mesmo e pronto...) que assistiu ao show com amigas e familiares e puta da vida estava (a puta) pois que segundo a dita "... nunca tinha visto banda tão ruim...". A raiva, a profunda indignação que me afligiu me remeteu de imediato a esse post. A exatos dois anos, estava eu visitando minha mãe. O Clã tocava mesmo defronte a casa dela e ... leia o post.


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"""São exatos 22:34 enquanto escrevo. O notebook ploogado na net me permite esse post já que cá estou eu longe da “sede”, visitando minha mãe aqui nas terras de Mossoró. Ocorre que a casa da D. Dione fica exatamente defronte à Estação das Artes, o arraial das juninas mossoroenses. Na verdade é atravessar dez metros de rua e já se encontrar na calçada do dito espaço. São dois palcos (principal e secundário) onde se revezam as atrações. Em sua imensa maioria, esses ditos atrativos se remetem ao forrozinho vagabundo de bandas de quinta do naipe de Forró Sacode, Aviões, Balanço de Menina e outras bostas. Salvam-se um ou dois. É o caso do Flávio José. E é o caso das meninas, aliás, da família Clã Brasil que nesse exato instante toca quase em cima de nossa calçada. De imediato o que chama atenção é a extrema simpatia e beleza das moças. Antes que o coração engrene a bater rápido a respaldar suspiros , essas mesmas senhorinhas oferecem o ritmo para a taquicardia: baião de primeiríssima qualidade, enlevante, arrebatador envolvido por uma execução perfeita. Ternura nas vozes bem colocadas mas sem perder nunca a firmeza das batitas extraidas do mais fundo dos tabuleiros, das trilhas inóspitas da caatinga. Uma palavra: tocante

Tudo isso está lá agora no palco... SECUNDÁRIO. Sim, no palco secundário. É, pois o palco principal está todo engalanado pra receber o forró Balanço de Menina. O Clã Brasil está no palco SECUNDÁRIO... O Balanço de Menina toca daqui a pouco no palco PRINCIPAL. Distando uns cem metros um do outro pode-se perceber certa aglomeração lá no principal. Aqui, defronte a casa de mamãe, umas poucas pessoas assistem e dançam ao som do Clã. UMAS POUCAS MESMO. Muito poucas mesmo. Com certeza, o outro lado deverá estar lotado daqui a minutos. O Balanço de Menina vai estar lá.

Meu Deus... isso não é um país. É o cú do mundo. Êita povinho de merda...Êita povinho vagabundo, descartável, desprezível, fedorento, burro, feio, um monte de carne amorfa aproveitavel para mão-de-obra barata e outras atribuições impublicáveis. Morro de arrependimento por um dia ter perdido um tempo enorme nas ruas e praças em utópicas passeatas de “poder para o povo”.... Uma porra, o poder para o povo. Esse povinho meleca está muito bem comendo uma ração diária que lhe permite manter sua mediocridade respirando, o que se demonstra um escandaloso gasto de oxigêni. Gostaria que os deuses de qualquer Olimpo me premiassem com a grana necessária para passar ao largo desses redutos de nojentas criaturas e suas músicas sebosas e inconsequentes, sua alegria pífia, plastificada e flatulenta.

O Clã Continua tocando. Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga, João do Vale, Zé do Norte, Gilberto Gil, Vandré. O ritmo não permite ficar parado. Os arranjos são super elaborados mas perfeitamente compreensíveis. E só tem uns gatos pingados lá olhando. Pudera. O Clã é bom gosto. O Clã é alegria. O Clã é gente bonita. O Clã é competência. O Clã Brasil é a dignidade e a altivez de uma cultura em extinção, assassinada pela indiferença, pelo descaso de uma população retardada e néscia, embriagada por valores suinos espargidos a granel por uma Mídia indecente, venal, corrupta e dirigida por gangsters.

Agora me enche o quarto onde furioso escrevo os acordes e as vozes maravilhosas das meninas destrinchando o “Baião da Penha” como numa oração de esperança. Esperança vã e pálida pois que a salvação de tudo fica nas mãos imundas do povo. Esse mesmo que centenas de anos atrás era percebido em toda a sua insensatez por Giordanno Bruno, que tascou:
“...é com puerilidades que se move essa estúpida besta chamada povo...”
E olha que na época do Giordanno ainda não havia o Balanço de Menina, o Cavaleiros do Forró e outras nojeiras.

Mas me deem licença. Vou deitar-me na rede e continuar a ouvir o Clã. Tenho de fazê-lo. Bebê-lo com avidez. É que em breve volto as margens do Açude Grande. E nesse arraial a atração principal é o Bonde do Maluco. Rogo desesperado aos deuses do bem que não permitam que me arrastem pra grandessísima bosta que vai ser, um sacríficio perdido no altar da socialização.
(Mossoró, junho de 2008)""""
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