segunda-feira, junho 14, 2010

poesia e saudades aladas nos céus de cajazeiras

"Quebrar correntes
com os dentes
Roer raízes e cordas
Encher o peito até doer
e voar, voar apenas
para cima, subir,
depressa
mais e mais, sem ouvir,
sem sentir,
sem sequer pensar
e sem nunca mais voltar!"
(Vilians3)

Desde pequeno, o meu fascínio. Ainda no ginásio encafifei com a idéia: voar. Na familía já tinhamos "jurisprudência". Meu tio-avô Valdir (nao cheguei a conhecê-lo), era membro do aeroclube de Mossoró. Nos idos dos 50's faleceu vítima de um acidente aéreo. Um dia antes de receber seu brevet, tio Valdir decolou em um monomotor em companhia de um colega de clube, Edson Sabóia. Subiram céus acima e por lá deixaram as almas. Não se sabe o que aconteceu. O avião se espatifou no chão. Durante anos, depois de sérias gestões, usei seus óculos RayBan, de aviador, fazendo figura nos corredores do Colégio Diocesano Santa Luzia. Perdí o precioso par de óculos, pelo que minha avó (irmã do falecido) nunca me perdoou, quero crer.

Escrevendo agora, me bate certo incômodo. Quando miúdo remexia um monte de fotos dessa figura que não conhecí mas que tão lembrado era em minha casa. Mamãe falava com um carinho imenso de Valdir. Cadê esses antigos "instantâneos"?? Largo o micro e, desde a morte de mamãe, abro umas caixas que ficaram sob minha guarda após os recentes passamentos. Acho as fotos. Deixo aqui algumas


Tio Valdir, por trás dos óculos que eu perdí.


1951, na praia, Tio Valdir (o de óculos). Aqui acredito que esteja escanchado em uma Indian. Tetim (meu tio-avô Eduardo, esposo da recentemente falecida Tia Dejamira) possuiu uma delas (e mais umas duas Harleys 1000 cc) e me falou uma vez que ele - Valdir - foi feliz proprietário uma clássica Indian

A turma do aeroclube nos tempos do meu tio aviador


Não se assuste. Esses moços estão cobertos de ÓLEO... Era o trote aplicado àqueles que tinham passado nas provas de aviação e estavam prontos a receber o brevet de piloto. Tio Valdir é um desses na foto.


Aqui imagens do monomotor em que voavam Tio Valdir e o seu colega Edson Saboia. Imagens capturadas logo apos a tragédia que vitimou os dois.



O fato era que me fascinavam as asas e o som dos motores. Fim de semana era de praxe passear pelo aeroporto de Mossoró, olhando embevecido as naves que por lá estivessem descansando no chão o metal sequioso por nuvens.
(saudades daquelas tardes, menino, acompanhado de Tetim e sua esposa, D. Dejamira, essa que cá ficou comigo esses ultimos meses)

Ainda no ginásio, minha mãe consegue pra mim e pelos esforços do Sargento Solon (aeronautica), velho amigo da família e responsavel pela aeródromo da cidade, um jogo de apostilas específicas para a EPCAR, Escola Preparatória de Cadetes do Ar, com sede em Barbacena, Minas Gerais. Caso fosse aprovado, deveria cumprir os três anos do antigo II Grau naquela escola, em regime de internato. Depois disso, teria garantido o ingresso na AFA - Academia de Força Aérea (Pirassununga, Sao Paulo).
Terminei desistindo de tudo, adolescente ainda. Curioso é que, olhando pra trás, não percebo a figura de Dona Dione, sempre tão presente em minhas empreitadas, dando sua cota de incentivo. Mamãe não comprou a idéia, percebo agora. Seria o espectro do ocorrido com o tio Valdir? Talvez. O fato é que terminei deixando pra lá a coisa (nao por culpa de minha mãe, fique claro). As apostilas (lembro bem das capas azuis-celeste) mantive comigo até uns anos. Depois nao sei que fim levaram.

O que motiva esse arroubo alado de saudades? Não tem mistério. Ontem, domingo, tardezinha, os céus de Cajazeiras se fizeram mais elegantes ornamentados com os Tucanos pilotados pelos rapazes da Esquadrilha da Fumaça. De novo me senti o menino que queria ser cadete da EPCAR e nao cansava de olhar pra cima toda vez que os rastros de fumaça se desenhavam nos ares mossoroensses. Pregado no chão, por instantes e assim como muitos outros, me senti o oitavo piloto naquela formação... Mais um Cavaleiro do Ar.



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