quinta-feira, junho 17, 2010

Uma constelação sem estrelas (talvez por isso mais brilhante)

Olha que posso estar exercendo minha indefectível mania de falar besteiras, coisa quase axiomática quando meto o bedelho onde não me cabe. Futebol nunca foi minha praia mesmo. Respeito o esporte bretão-tupiniquim, reconheço sua envergadura no universo cultural verde-e-amarelo, mas não vou muito com a cara do dito. Sou muito honesto pra reconhecer a coisa como uma falha grave de avaliação. É que não consigo separar o joio do trigo. Não consigo ver como independentes o objeto e o mal uso que se faz do mesmo. O futebol, per se, enquanto atividade esportiva, é uma coisa fantástica. Gosto, por exemplo, do tempo dedicado às pelejas. São noventa minutos (isso sem prorrogação) onde as coisas podem acontecer sem o afogadilho de um jogo de basquete. O lapso de uma partida permite o teste não somente das capacidades físicas e técnicas dos envolvidos mas também põe a prova seu preparo emocional e psicológico. Um time com um primeiro tempo sofrível tem possibilidade de reverter sua situação na etapa complementar a partir de um processo de superação que pode partir de um belo esculacho (psicologia de choque???) proferido nos recônditos do vestiário por um colérico treinador. Repito, mesmo não sendo meu esporte favorito, tem o futebol minha admiração.

Como disse, meu pecado é não saber separar as coisas. No caso do futebol me deixa puto da vida o que para alguns é uma paixão a se admirar. Me irrita o uso alienantemente distorcido (não por culpa do esporte em si, fique claro), que toma forma indelével aqui nas terras de mãe-preta-e-pai-joão. Lembrem do tricampeonato em 1970. O país afogado em dores e males e a população feliz como se possuísse cidadania sueca. A alegria da rede balançando encobria os corpos esquálidos de fome e doença que grassavam em outras redes Brasil afora. E daí, se o meu time ganhou? Isso me tirava e tira do sério. Resultado: nunca me envolvi muito com bolas e gramados. E quanto aquela mesa enfiada em um boteco, cercada por um monte de machos (enfiados em "elegantíssimas" camisas de times), com a boca cheia de farinha que espargem uns nos outros junto com pedaços de linguiça quando urram a plenos pulmões de olhos esgazeados para uma TV, é a visão da ante-sala do purgatório.

Contudo, jamais me furtei de acompanhar os Campeonatos Mundiais, coisa que faço com alma e dentes. Desde que me entendo por gente, mal aparece o vislumbre de uma Copa do Mundo no horizonte, passo a correr feito louco atrás de fontes que me tirem do atraso informativo e me possibilitem acompanhar o certame internacional com um mínimo de base e conhecimento. Assisto tudo que é partida, e, como todos, sempre escolho um selecionado alternativo, aquele que simpatizamos junto a Canarinha. Lembram da seleção de Camarões, nos bons tempos do Roger Mila?

Ocorre que nesta edição do campeonato mundial tenho estranhado a falta ou a palidez dos chamados “craques”. Sempre contamos com a presença deles, seus nomes e figuras claras, quer fossem ou não unanimidades. Precisa voltar ao tempo do Pelé não. Sócrates e Zico ilustram bem a coisa. Mais recentemente, e por que não, a pessoa controversa do Romário ou do Ronaldo. O fato é que sempre elegemos aquele que poderia decidir tudo, em quem depositaríamos nossas ultimas esperanças quando a vaca começasse a olhar o brejo com familiaridade. Ando preocupado pois que não percebo na África do Sul nada parecido com o exposto. Fala-se de um ou de outro. Kaká e Robinho, seriam esses?

Eu sei, eu sei que unanimidade nunca existirá quando o assunto é futebol e a discussão enlace a torcida brasileira. Mas se observamos direitinho, percebemos que tempos atrás dispúnhamos de algo que, se não batesse o unânime, chegava bem perto. Não vejo isso nesta copa.

Mas perceba o amigo(a) leitor(a) que o fato quero creditar ser bem positivo. Que tira muito a graça de coisa, áh, isso tira. Mas por outro lado a gente começa a encarar o selecionado como um grupo, uma equipe e não um séqüito a servir nobres desportistas que no decurso da competição demonstram que não valem o dinheiro gasto com as passagens. Esse filme a gente já conhece bem, não é mesmo?

Atribuo ao Dunga essa situação meio que nova pra gente aqui da arquibancada. Lembro das criticas ácidas despejadas sobre o gaúcho mal encarado quando ainda era jogador. Falava-se que era um bruto, sem nenhuma técnica, mais força que poesia com a bola nos pés. O fato é que eu adorava o Dunga. Achava o máximo os berros que ele distribuía em campo quando não ia com alguma situação. Podia não ser um brilhante jogador. Longe estava da sutileza de um driblador, do brilho ofuscante de um craque frente ao apavorado arqueiro. Mas meu amigo, qualquer adversário com a bola nos pés que olhasse pra traz e percebesse aquela careta em desabalada carreira em sua direção, começava a pensar se fez à escolha certa ao seguir a carreira do futebol. O Dunga era o “delegado” do pedaço (me perdoe o Ricardo Rocha, apelidado “Sherife”).

Essa postura o homem trouxe à sua carreira de técnico. O Dunga escolheu um selecionado “seu” (andou dizendo isso recentemente não foi?). Estrelas não o impressionam. Currículos, por si só, não tinham poder de determinar quem ia e quem ficava. E como ficaram astros (decadentes ou não), a chupar o dedo...
O fato é que não percebo “heróis” neste selecionado. Entro pela primeira vez em uma Copa do Mundo pra ver o Brasil jogar e não pra conferir o show de um ou outro, coisa que me levava às raias do ódio quando me deparava com o fiasco dentro das quatro linhas. Mas, como dito antes, posso estar mais uma vez metendo o bedelho onde não me cabe. Mas quer saber de uma coisa? Sou brasileiro, o televisor é meu, pago a conta de luz e as cervejas. Então posso falar as besteiras que quiser...desde que, sem estrelas, voltemos da África com mais uma na camisa.

ps – vocês acham o Maradona
o supra-sumo da imbecilidade
como eu acho?

Um comentário:

Anônimo disse...

KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK