Dia dos Pais e Dia das Mães sempre me deixaram confuso. Não pela falta do pai, que caiu fora de minha mãe quando eu nem sabia que era gente ainda (3 anos de idade). Na verdade, tive uma fartura de pais, e, de cima da maturidade, hoje percebo que NUNCA ENCONTREI ALGUEM - UM PAI - QUE PELO MENOS SE APROXIMASSE DELES, qualquer que fosse a circunstância. De manhã, de tarde, de noite...eles nunca deixaram de estar por perto. Mas voltemos a confusão que sempre me causaram essas datas (Dia dos Pais e Dia das Mães). Não vou expor o conceito. Vou dar um exemplo. Tomemos o Dia das Mães. Quando começava a enumerar as qualidades (INFINITAS) de D. Dione na condição de mãe, começavam a aparecer coisas do tipo: "aaaa...legal... Tetim também... Vozinho também...Titia e Vozinha também...". Eu tive um monte de pais e mães. E nao entenda isso como a batida figura de linguagem que se usa como lugar-comum nessas situações. Afirmo de pé junto, que guardadas as devidas proporções, Meu tio-avô e minha tia-avó (Tetinho e Titia), Dona Dione, minha mãe, e vozinho e vozinha (maternos), se diferenciavam entre sí (quando o assunto era atenção a mim dispensada) somente pelo número do CPF de cada um. Pra que vocês tenham idéia, olho para tras e nao identifico uma reprimenda mais brusca de nenhum deles. NENHUMA, entenda ipsis literis. E olha que eu cheguei a merecer... e muito.
Morávamos todos juntos. Como ja escrevi aqui, posts anteriores, eu me dividia em duas casas (contiguas). Dormia vez em uma, vez em outra, almoço em uma, jantar em outra. Livros em uma, guarda roupas em outra. É serio, nao estou brincando. Os amigos de Mossoro e das antigas que por aqui passam nao me deixam mentir.
Todos eles agiram como pais e mães, sob a batuta de Dona Dione (regendo as diretrizes gerais de minha formação e sobrevivência). Eles me levaram a banhos de água doce e salgada , me trouxeram à sorveteria, me presentearam com minha primeira revista em quadrinhos (o volume 1 da Tex, que trazia de brinde um minúsculo arco e flecha...foi Vozinho - o Homem dos Livros - quem me deu. ). Me ensinaram a pescar camarão com uma garrafa, me ensinaram a fazer arraias (pipas), me deram moedas, socorreram meu choro (e nao somente quando criança), me ensinaram a dirigir, acompanharam minha boemia, me deram seus discos e depois me compraram outros, se orgulharam a cada degrauzinho galgado em minha carreira, me levaram pro hospital, me presentearam meus primeiros instrumentos musicais, me ensinaram sobre poesia e violeiros, contaram histórias, me deram banho (mesmo já eu um cavalo...Mamãe me pegava adulto e biritado e usava uma bucha pra me dar polimento no meio da ressaca ou do porre...coisa de pai), me levavam pra feira no mercado de madrugada, traziam da feira agrados pra mim, cozinhavam meus pratos prediletos, recebiam meus amigos, recebiam minhas namoradas, perdoavam e esqueciam SEMPRE, repito, SEMPRE, meus deslizes e ousadias, acenderam fogueiras de São João, se fizeram de Papai Noel, me empurraram mundo a fora, me viram e aplaudiram na parada tocando na banda do colégio e finalmente me concederam o privilégio de estar presente na hora de cada morte, distancia máxima de metros...
(agora pegou... como sinto falta de vocês...como vocês me fazem falta...me recomponho e continuo)
De forma que sempre me foi muito dificil diferenciar pais e mães. Era uma mão de obra e continua sendo. Mesmo separando homenagens, ainda fica o coletivo. Dias das Mães, eram três... Dias dos Pais, esses dois, gravados a fogo e doçura em minha alma. Todos os dias, eles cinco (minha mãe, Dona Dione; meus tios-avós que nao tiveram filhos para que a mim coubesse o privilegio, Tetinho e Titia... meus avós maternos, Vozinho e Vozinha). Como gostaria de tê-los de novo, vocês todos.
Hoje, contudo, abraço Tetim e Vozinho, meus "pais de calças"...e peço que levem parte de minha saudade, do meu eterno amor aos outros três, "meus pais de saias", Dona Dione, (mãe), Vozinha (D. Mundica) e Titia Djamira.
Diz quem fica
Me dê um abraço venha me apertar
Tô chegando
Coisa que gosto é poder partir sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar quando quero
Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai querer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim chegar e partir
São só dois lados da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro é também despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
Encontros e Despedidas
(Milton Nascimento)
Mande notícias do mundo de láDiz quem fica
Me dê um abraço venha me apertar
Tô chegando
Coisa que gosto é poder partir sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar quando quero
Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai querer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim chegar e partir
São só dois lados da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro é também despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
Um comentário:
MESMO DIANTE DESTA VÍSIVEL NOSTALGIA,A CRÔNICA FICOU LINDA,DIGNA DELES;TAMBÉM PUDERA,NESSA HORA SE ESCREVE COM A ALMA.TENHA CERTEZA QUE TODOS ELES ESTÃO VELANDO POR TI,POR ÂNGELO E PELA ÚNICA E QUERIDA NETA. LADY X
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