terça-feira, julho 25, 2006

Desculpas... com menos anos de atraso



Mas vocês queriam o quê??? Vamos lá... Reconheçam que dessa vez tem um atenuante, sim senho(a)r. Uma banda que tem por nome "Los Hermanos" e uma música chamada "Ana Júlia" na boca de todos os idiotas da nação, merece uma segunda audição??? Numa época em que pipocava um monte de ridículos grupos pop rock, aparece no meio da sopa de cretinices os tais "Los Hermanos", berrando a plenos pulmões "...óóóóóóóóó Ana Juuuuliaaaaa", nem chegava a ser um choque pra quem já vinha respirando aquela atmosfera de babaquices. Aconteceu com você também, não foi?
Se você me conhece bem, já percebeu qual o destino que dei aos caras: direto pro limbo. De lá pra cá "Los Brothers" começam a aparecer de novo e não mais por néscias mãos. Leio várias resenhas onde o trabalho dos meninos era louvado em verso e prosa. Pior ainda: muita gente que tenho como de juízo confiável, me aparece desfiando rosários pela banda. Fico um tanto confuso. O mundo pirou de vez. Sim, pois pra mim quem tem a desfaçatez de compor e gravar um coquetel de merda como "Ana Julia", não tinha salvação nem contando com todos os anjos do céu. Uma questão de biologia mesmo. Falta de neurônios, de sensibilidade artística, do que fazer.
Vivemos uma era de extrema leniência estética. Como não podemos viver sem o "belo" e diante da escassez do produto, a tendência é aproveitar o menor laivo de bom gosto, a menor sombra de agradabilidade que se oferte no mercado. Devia ser isso. Talvez o desespero gerado pelo árido cenário musical nacional tenha forçado a barra e Los Hermanos goela abaixo de todo mundo com um mínimo de senso. Mas era muito estranho isso. Pra você ter uma idéia, das muitas pessoas que freqüentam minha casa, tem-se um moço extremamente prendado musicalmente. Esse rapaz tem um vício: compor. Ele compõe instrumentais como uma barata põe ovos: aos zilhões. E sem perder a qualidade. Pois um dia desses o cara - extremamente alvoroçado - me dizia que ia bater em João Pessoa pra assistir aos tais Los Hermanos. Começo a desconfiar de um complot. Talvez a indústria fonográfica tenha desenvolvido algum produto que - transferido ao organismo humano pelo manuseio dos CDs (Umberto Eco???) - deixa o incauto completamente idiotizado e prontinho, portanto, a consumir qualquer excremento que saia da linha de produção. Deus me proteja de botar as mãos em algum CD dessa banda. Ocorre que esses dias o Diego me presenteia com uma coletânea - em MP3 - de diversas bandas nacionais. No meio vem os Cds "4" e "Ventura", se não me engano os primeiros trabalhos publicados dos "Hermanos". Deixo rodar a coletânea quando - sem querer mesmo - o player entra na pasta dos citados discos e começa a reproduzi-los. Veja que o disco de dados que o Diego "Bass" Nogueira me presenteou trazia várias bandas. Continuo a trabalhar tendo por fundo uma música super bem arranjada, muito bem composta, de lírica doce e intimista competentemente executada. Na terceira ou quarta faixa vou até o player - que rodava em segundo plano no micro - pra ver de quem se tratava. Não podia ser, mas era: Los Hermanos. Deixo tudo em stand by, ponho no começo do álbum e me dedico à audição. Depois do "4", vou até o "Ventura". Mesma linha. Mesma beleza. Mesma diversidade no set list. Mesma qualidade. Volto no tempo... Em "Dois Barcos" o piano misterioso, próprio do progressivo. Aquele piano cabia muito bem em alguma coisa do Roger Waters. E sobrava.... De repente uma batida bem Bossa Nova em "Fez-se ao Mar". Bossa eletrificada diga-se bem. Corajosa, mas sutil como só a Bossa sabe ser. E o vocalista ainda arrisca um grave de João Gilberto logo na primeira frase do primeiro verso para, lá no meio, se lançar a um falsete cristalino e delicado. E tinha mais. Toca-se "É de Lágrima". Vai seguindo tendo por fundo uma guitarra clean a firular acordes. De repente uma virada de bateria e.... e.... e... os acordes introdutórios de With Little Help From my Friends. Não sei se foi de propósito. Não sei se a intenção era usar esse clássico como incidência. Algo me diz que foi intencional (não tenho o encarte pra tirar a prova). É o mesmo arranjo só que com o sintetizador fazendo o que no original faz a guitarra. Ouço duas, três, quatro vezes. É mesmo a introdução de With Little Help From My Friends. Pra tirar a teima, pego minha guitarra coloco pra rodar a peça em questão e na hora "H" largo as notas da música, Beatles, sim, mas imortalizada pelo "Furacão de Woodstock", Joe Cocker. É ela mesmo. Não tem pra onde correr.
Em outro momento e em outra faixa sai uma guitarra em distorção fuzzy, a distorção típica da década de 70. E aí é humanamente impossível não se remeter ao Secos e Molhados e ao Terço...
O fato é que o grupo transcende o Rock. Transita muito à vontade entre a MPB tradicional, salsa, bossa, jazz, rock progressivo, pop setentista e o diabo a "4"... Uma (a)"Ventura" ouvi-los. São discos pra rodar na praia. Não me vem outra imagem na cabeça. Música pra ouvir na praia, já meio alcoolizado - como costumávamos fazer em outras décadas. Começo a achar que "Ana Julia" realmente é a música fenômeno do grupo. Como diabos eles conseguiram fazer algo tão ruim, não sei. Mas que estão mais que redimidos, estão. Hoje tenho "Los Hermanos" como o diferencial no universo pop nacional. Fico super agradecido à banda. Não vou ouvi-los muito. Já conheço o riscado. Mas ficamos todos nós - que vivemos uma época fantástica do rock universal - profundamente gratos aos "Irmãos" pelo resgate daqueles timbres, daquela forma de produzir sons. Olha, garotada, era mais ou menos assim, mais ou menos assim que se fazia...


em tempo: reeditei a faixa "É de Lágrima". Tasquei a guitarra solo da introdução de "With Little Help From My Friends" na incidência...Agora tenho minha versão "personalizada"... hehehehehe


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