quarta-feira, agosto 02, 2006

Ali Farka Touré: A Raiz do Blues Raiz

Navego pra cima e pra baixo, converso com um e outro e me deparo com o som desse senhor, recentemente falecido (março último a0s 67 anos). Nasceu, se criou, sempre residiu e agora foi sepultado na aldeia Niafunkè encravada nas beiras do Saara, onde energia e água encanada são luxos que ainda não se deram por lá. É o Mali profundo. De lá, o Farka faz um som tão "primitivo" e natural quanto o seu habitat. E áspero também. Foi esse som que o levou mundo a fora e lhe possibilitou um Grammy na década de 90 em um projeto conjunto com Ry Cooder, o cara do Buena Vista Social Club. O Farka subiu em todos os palcos e não gostou do que viu e ouviu. Tanto não gostou que se enfiou em sua aldeia natal e de lá não mais saiu, dedicando-se tão somente à agricultura. Tanto isso é verdade que o seu CD "Niafunke" (nome de sua aldeia) foi gravado na própria. Tiveram que arrastar um gerador e um mini-estúdio senão o disco não rolava. Parecido com Manitas de Plata, o violonista flamenco. Descoberto por um americano na década de 60 (se não me engano) o Manitas se recusava a ir a Nova York gravar. Não queria conversa com avião e não se dava com travessias oceânicas. Os gringos se dobraram e levaram um estúdio pra dentro de uma igrejinha no interior da Espanha de onde captaram a magia que fluia dos dedos de Manitas.
Não gosto de rótulos. Mas tem um, somente um que adoro. "World Music". Música do Mundo... Música de Mundos... Da pequena aldeia de Manitas de Plata... Da arenosa aldeia de Ali Farka... Da lama do Delta do Mississipi...Da Caatinga de Joao do Vale... Tem horas que quase vale a pena ter nascido nesse planeta.

ps - pra quem gosta mesmo de blues é quase obrigatorio ouvir o Ali Farka. Quando não, só pra perceber muito claramente o quanto ele - o blues - tem relações íntimas com a África.

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