domingo, julho 30, 2006

A indefinição do cinza...

Vivemos uma democracia, certo? Em que pese a velha discussão acerca das possibilidades do exercício real do termo numa sociedade eivada de terríveis extremos econômicos, é de se pensar que vivemos uma democracia. Nesses dias que correm não precisa nem abrir a janela: ela (a democracia) invade seu sossêgo na forma do rugir do foguetório, das buzinas, dos jingles e das falas inflamadas que se pesca das carreatas. A cidade começa a se vestir de cores e slogans a delimitar grupos e partidos. Começa a corte. Os candidatos, lânguidos e melosos, se infiltram no seu cotidiano a distribuir gentilezas, a espargir propostas benfazejas. Afinal, vivemos em uma democracia, não é mesmo?
Só que cá estou, confuso, perdido e sem direção. Venho do tempo do "preto" e do "branco". Bandidos e mocinhos estavam alí, bem à vista, e - se não facilmente indentificáveis, como o tempo iria nos mostrar - facilitava a vida do Homo Politico a ausência de matizes intermediárias (ledo engano....). Hoje fico um tanto quanto atarantado com a predominância do "cinza". O cara "É", mas tambem não "É" tanto assim... Ou o oposto... Sei lá mais quem é quem...
A pancada que o PT largou sem pena e dó em minha ingênua moleira política, começa a apresentar suas sequelas agora. Chegamos lá, não foi? Vitória de Pirro, é certo... E eu não tenho pra onde ir. É de se pensar que - oriundo das fileiras vermelhas - a rota normal desaguaria no PSOL ou PSTU. Talvez no PC do B... Ocorre que não dá pra fingir que a História não aconteceu. Do Muro de Berlim ficou de bom o show do Roger Waters a empurrar o último tijolinho daquela coisa nojenta. Além do quê, se você prestar atenção em certos nomes que aparecem abrigados sob essas legendas... Sei não...
Também não dá pra assumir a política nos moldes tradicionais. Aquela coisa festiva, pontilhada de oportunidades e de cifrões que mudam de bolso com uma facilidade estonteante. Aos 42 anos fica difícil pra cacete mudar certos hábitos.
Nos ultimos meses venho desenvolvendo uma experiência muito interessante. Por força das circunstâncias tenho vivido muito próximo a legítimos representantes das massas. É serio. Não se fala aqui de lideranças políticas, mas de gente "comum" mesmo, do povo, da massa que vota e elege. Nossa vidinha de classe mé(r)dia não deixa passar muito dos valores e práticas que essas pessoas exercem. Não tem sido assim nos últimos meses. Acompanho diálogos, ouço suas músicas, submeto-me aos seus juízos. Em síntese, estou a dois passos do suicídio. Na verdade, apavorado com a atmosfera quase "blasè" com que essas pessoas envolvem os temas que - para nós - repesentam o cerne da existência. As coisas passam ao som de um forrozinho vagabundo, enquanto se tangem indivíduos e mentes ao sabor de uma mídia venal e de péssimo gosto. Mas voltemos à politica. Dias desses acompanhei uma conversa que reproduzo da forma mais fiel que a memória permite:

" - ... eu quero ver se pego pelo menos 50 reais esse fim-de-semana no comício de fulano. Cicraninho me falou que outro cicraninho recebeu 6 mil reais pra gastar.. foi "fulano de tal" (candidato) que deu...
- Pois eu, mulher, não quero sair dessa campanha com menos de 400 reais...
- Tô nem aí... quero saber mesmo é das festas, dos comícios..."

Viu aí? Eu ouvi. E tinha muito mais. O foda é que você sabe que sempre existiu esse tipo de coisa. Mas quando você chega a perceber de perto, à distância de um peido, o troço fica CHATO PRA DANADO. E agora? Dá pra esperar uma revanche das massas???
De forma que cá estou no meio desse saco de gatos onde todos são pardos... E olhe que nem noite é...

"On domine plus facilement les peuples
en excitant leurs passions qu'en s'occupant
de leurs intérêts." (domina-se mais facilmente os povos
excitando-lhes as paixões do que cuidando dos seus interesses
)
Gustave Lebon

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