quarta-feira, setembro 27, 2006

Blues Verde-e-Amarelo: revival

Incrivel as coisas quando entranham na gente. De ontem pra hoje mato a saudade de um velho frequentador do meu pick-up. Falo do vinil "Celso Blues Boy ao Vivo". Tá aqui na coleção de "bolachões", a quem dedico o maior carinho do mundo. Foi no preto do Long Play e do Compacto que me fiz musicalmente (talvez por isso minha música tenha tanto chiado...). O fato é que ontem me pego a cantarolar "A Isso Chamam Blues"



Cinza é o dia, e a chuva não parou.
O que mais posso querer,
além de algo pra esquecer?


Você me tira o sono...
Tão longa é a noite.
Lembro os nossos corpos nus,
A isso chamam blues,


Fria como o gelo,
mesmo assim me faz tremer.
Me levava até as nuvens,
e agora vejo o chão.

Homem, eu não sei
Como posso ser feliz,
Se sinto tanta dor...

A isso chamam blues,
A isso chamam blues.

Esse vinil é raro. Nem sei se foi lançado. O que eu tenho é uma cópia promocional, não finalizada para o mercado. A lista das músicas impressa na capa ainda se encontra diferente do ordenamento de faixas no LP. Coisa rara mesmo. Assim como raros foram os tempos em que ele serviu de trilha sonora. Na época, estava eu a descobrir o Blues trepado em cima de um contrabaixo. Naquele momento eu ouvia caminhões blues. Me apaixonava por coisas aos montes e descartava também montes outros montes. Por exemplo - e não que eu tenha descartado - descobri o "Blues Etílico". Mas sempre os achei muito "engraçadinhos". Lançavam luz na sombria atmosfera blues. Já o Celso não. Por ele a luz era apagada de todo. "Damas da Noite", "Fumando na Escuridão", "Brilho da Noite", "De um Jeito Blues" são algumas "tijoladas" que saltam no seu ouvido e tomam de assalto seu juízo, liquefazendo-o. Tudo isso ao som INSUBSTITUÍVEL de uma Stratocaster Fender que quando não grita, berra e quando não berra, chora (viu, Maestro Erivan, esse viciado em Les Paul, aquelas tábuas de engomar com cordas, hehehehe). A essas alturas da audição você ja está implorando: "uma garrafa e um copo, uma garrafa e um copo, pelo amor de Deus...". Se for ouvir faça-o por sua conta e risco...

(Diego, meu amigo, eu lhe avisei quando lhe presenteei com uma cópia digitalizada do citado LP... Não me culpe depois...)

Tenho uma preguiça enorme de digitalizar vinis, a despeito de possuir as ferramentas e o "know-how". Passar o som pra dentro de micro é fácil e qualquer chimpanzé ou retardado mental que ouça forró eletrônico pode fazê-lo (o chimpanzé com mais facilidade ainda...). Foda é a equalização final, a redução dos ruidos (esse último eu já desisiti de fazer). Mas quando a gente vê o resultado, uma pérola antes empoeirada, brilhando novinha e acessível ao toque de um dedo... Homem, vale a pena o trabalho.
Na onda de digitalização, terminado o Celso, me ocorre uma tarefa não menos importante: recuperar "Axixa - Bumba Meu Boi". Pra quem não sabe, Axixa é uma pequena cidade do Maranhão. Eles se consideram (e depois de ouvir o disco, não tenho dúvidas) a capital do Boi de Orquestra. É que o Bumba-Meu-Boi possui três vertentes (os chamados "sotaques"): Boi de Matraca, Boi de Zabumba e o Boi de Orquestra. Esse último é como o nome diz. A abertura das músicas fica a cargo de um banjo. Depois os caras metem os "beiços" nos bocais e cai uma cortina de metais que acompanha - em quase solo - a vocalização. Construida, em sua maioria, em acordes menores, as melodias passam um ar de nostalgia. A linha rítimica é traçada por um"tambor-onça", roncando feito um desvairado, lá atrás, emoldurando uma vocalização de encher os olhos de lágrimas. São vozes do povo, cantando poesia do povo.

"Garota como a noite está tão bela
vamos a praia para contemplar o mar
quero escutar o canto da sereia
quero escrever o seu nome na areia

E ficar olhando as ondas 'brilhar'
sob a luz do luar
E como é tempo de São João
Quero sentir a mesma emoção
com os meus amigos no bumba boi de Axixa"
(Nome na Areia)

Estranho, não?!?!?!!? Um "homem do rock" ouvir (e pior) TER no seu acervo algo do tipo. Carissimos e carissimas: meu parco acervo tem isso é muito mais. Me considero "cidadão do mundo" mas com os pés bem ficados em meu "trecho". E creia-me: a stratocaster se alinha perfeitamente a violões, violas e pífanos. Sem conflito e sem "nóia". Costumo dizer que é de bom tom somente se arriscar em outras águas depois de se estabelecer um porto seguro de descanso e referencial. Posso ir onde quiser então. Ouvir Ali Farka Touree, MariZa, Stevie Ray Vaughan, Azanavour e o Boi de Axixa somente me faz sentir mais proximo da Humanidade. Me faz ver o quanto somos parecidos todos. Sentimos do mesmo modo aqui, no Maranhão, no deserto africano, às margens do Tejo, na quadra do Império Serrano ou em um esfumaçado bar em Montmarte. Essa primeira noção de universalidade devo aos vinis, esses que reverencio.
Agora, deixa eu terminar aqui esse troço...

("um homem do rock" ... hehehe... essa foi boa)

ps - em busca de um disco virtual que hospede e permita compartilhamento para os demos do Arlequim Rock'n'Roll Band, me vem a cabeça que seria iteressante possuir o mesmo recurso aqui no Opinio. Sempre que se postasse algo sobre determinado estilo, música ou intérprete colocaria aqui um link que possibilitasse ao gentil leito(a)r acesso a cópia da obra. Agurdemos, pois, enquanto fuço por aí.

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