quinta-feira, dezembro 14, 2006

Notas de Viagem (de Mossoró-RN)

Estranho escrever nessas condições... Acostumado ao recôndito da biblioteca particular, o ar um tanto público do cyber - encravado numa livraria - me deixa meio que encabulado. O teclado não tem as mesmas manhas do meu. Paranóia ou não, parece que todo mundo quer olhar sobre o meu ombro, a tela descomunalmente espalhafatosa (quero meu monitor de 15 polegadas mesmo...) colaborando descaradamente. A "Livraria Café Cultura" fica bem do ladinho da casa de Mamãe, em Mossoró. Não tem como rever o "ninho" sem dar um pulinho e conferir as tentações literárias que acenam lânguidas das estantes, a acender minha volúpia por tinta e papel. Aproveito e dou uma voltinha no Opinio. Armado de uma xícara de cappuccino e uma água mineral, resolvo mudar a cara do blog. Para o bem ou para o mal, está feito.

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A estrada ficou mais confortavel. Transfiro para o player do carro a sequência que normalmente uso como trilha sonora de minha via crucis diária de 24 kilômetros (o que me dá uma perda aproximada de 1300 kalorias com o atual peso e blá, blá, blá....). Enigma e Gotham Project deixam Mossoró bem mais próximo de Cajazeiras. O Corsinha voa baixo. Minha alma, condor sem graça, esgarça as alturas.

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A cidadezinha mal tem cinco ruas. A pracinha em construção está quase terminada. Tem coreto, lanchonete e muitos bancos a espera de costas e bundas. Já imagino, noitinha ainda se fazendo, o burburinho, as risadas fortuitas, o som do alto-falante colorido pelo amarelo da iluminação de mercúrio. Lugar-comum seria se não se percebe a localização do novo sítio: BEM NA CALÇADA DO CEMITÉRIO LOCAL. Muito legal isso. Os mortos deixam seu lugar de escuridão e esquecimento e reivindicam seu lugar na praça, de onde nunca deveriam ter saido. Para os presentes, fica o meu desejo que o tempo e a convivência desmistifiquem a súbita ausência, sem , necessariamente, minorar o fardo de suportá-la. O Corsa passa ligeiro... Não dá pra perceber mais.

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As agulhas seguem caminho sobre minha pele, buscando o espaço subcutâneo onde depositar as cores. A dor (mais picada constante que dor, propriamente falando) me remete a anos - muitos anos atrás - quando, ostentando toda a coragem do mundo , ousei minha primeira tatuagem. Era a mesma dorzinha chata que me força a concentração no presente. Um novo esboço se forma entre agulhadas, um pouco de sangue e pigmentos. Esse novo desenho nasceu e cresceu lá dentro do meu coração. Devagar se formou e eclodiu, mas somente um pouco antes de abandonar meu corpo, não o fazendo então. Ficou "fadinha" flutuando milímetros abaixo da superfície. As iniciais "MJ", estilizadas entre estrelinhas que saltam da varinha mágica de Sininho, não deixam dúvidas quanto a identidade da musa dona de todo esse amor que me leva a gravar novamente o corpo, a ferro e tinta. Maya Jordana.

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