sexta-feira, dezembro 15, 2006

Notas de Viagem II (de Mossoró - RN)

As luzes, o comércio aberto até depois da noitinha, não deixam dúvidas: Um ano morre, outro dá o ar da graça. Trefego pelas ruas, transponho pontes, palmilho praças. A companhia dos meus poucos e mais que queridos familiares imediatos nao serve de lenitivo a intensa melancolia que me toma. Não é novidade isso. É esperada essa sensação todas as vezes que dezembro ameaça me mostrar seus nevados caninos. A bem da verdade o vácuo que me toma já faz parte do ritual que acompanha os festejos. Só que este ano a coisa fica mais grave, mais doida. A cidade já não é mais a minha. Também não estarei na Véspera, nem mesmo no Reveillon junto aos que me são imensamente caros e que sucumbem à idade e a doença. A ausência mais que presente dos que já se foram forma uma teia densa que me assalta e enevoa o coração. Pra piorar meu irmão resolve uma pescaria de memórias durante o passeio. Logo resolve mudar de assunto. Ainda bem. Voltamos a nos concentrar na ornamentação da cidade, um esforço "a la Quinta Avenida".
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Sinceramente acho que é a maldição dos nômades: os lugares se esgotam rapidamente. Aqui o processo foi mais lento. Levou anos até a perda dos traquejos da cidade. Não me seduz o ar de metrópole que a velha Mossoró assumiu. Não cresci numa metrópole. Não me acostumo ao seu novo perfil, escrachadamente mundano. Prefiro a hipocrisia infantil da cidade pequena. O "pro" é que o moderno conceito de "pequeno" transcende os limites óbvios do demográfico, do geográfico. Não tem mais pra onde correr: todo o mundo é uma cidade só. Pior: uma grande metrópole.

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Cato na rua a noticia: morreu Sivuca. Não dá outra: De estalo meu cérebro começa a reproduzir os acordes de "Cabelo de Milho". Saio em busca de cumprir os compromissos que me levam a tomar esse banho de "sol derretido" no centro de Mossoró. Cantarolando "Cabelo de Milho", é claro.
"... se pudesse o céu chover
só a metade do que chove
no meu coração..."
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Os telefonemas do Sertão me forçam a arrumar o saco e retomar novamente à "rodage", mais cedo que o combinado. De volta ao estaleiro, os problemas formam fila pra me receber. Amanhã cedinho o corsinha aponta sua elegante proa em direção sul-oeste, ao Alto Sertão. Mas hoje a noite me permito um momento fugaz, uma farpa de distração: vou ver o Nicolas Cage na Tela Grande. O filme é (acho que) o "Duas Torres". Nunca ouvi falar. Pelo que pude perceber do cartaz, vamos da melosidade hollywoodiana para o desastre do "World Trade Laden"... Depois o sono, o ziper fechado rapidamente na sacola, o motor e a estrada... Essa "Infinita Highway".

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