quarta-feira, junho 06, 2007

O Xamego do Xamegão

O Giordano Bruno era muito abusado mesmo. E quando bate o “xamegoso” mês de junho me vem sempre ao juízo um dito do Giordano onde se costura na mesma oração as palavras “povo” e “puerilidade”. É que me irritam profundamente os bufados da massa todas as vezes que se publica a programação para o junino Xamegão. É sempre a mesma coisa. Chora-se a ausência do “estrelato”. Destilam-se decepções diante da presença de gente da terra no palco em reprise à surrada história de que “santo de casa não obra milagres...”. A massa chorosa e lamentosa não deixa ninguém em paz cobrando do poder público local o arreganhar dos cofres em prol de sua fugaz felicidade, neste período atrelada em definitivo ao palco do Xamegão. Ou seja, quem quer que esteja à frente da prefeitura, antes do lume da primeira fogueira, tem de se transubstanciar em promoter sob pena de ser assado em fogo brando nesta mesma fogueira. As frustradas expectativas clamam por Aviões, Chibatas, Calcinhas, Limões, Gatinhas, Cavaleiros e outras ziliardárias bostas, de mesma cepa. É bom que não se pense muito no assunto sob pena de se oscilar da mais arrebatada indignação ao mais profundo estado depressivo. Sim, pois se a gente solta um peido nesse festivo país, uma taxa ou imposto incide impiedosamente sobre o desavisado flatulento. Uma das maiores cargas tributárias do mundo, o Brasil se alinha entre os perdulários de gastos inconseqüentes cravados em orçamentos inconsistentes. Ao administrador mais sério resta um calvário de demandas não atendidas e que quando atendidas passam despercebidas pela alegre e pinotante pessoa do povo. Aqui, às margens do Açude Grande neste período de foguetório e canjicas, a depender de quem está no palco do Xamegão, pode o administrador público encetar um romance tórrido com a população sob todas as bênçãos de Santo Antonio. Só que esse affaire não sai de graça. E o otário que banca, adivinhe, sou eu. Sou eu quem financia a fuzarca com meus suados trocados arrebatados do meu parco orçamento doméstico na forma de tributação. É onde acaba a paciência. Pois que se alguém quer balançar a bundinha ou decantar louvores à raparigas (que merecem mais do que recebem em forma de poesia musical), Pajeros envenenadas, cachaça e galhas que o faça sem minha contribuição. Não autorizei e não autorizarei nenhum gestor público a queimar minha grana em um megaterreiro de mau(l)-gosto, movido a caríssimas e desprezíveis atrações para o deleite de uma multidão de desavisados (estou sendo educado com a multidão... vocês precisavam ver o adjetivo que digitei e apaguei de imediato) que clama por Circo não se preocupando um grama que seja com o Pão. Que o Poder Público se obriga ao suporte às coisas do cultural é compreensão clara e inequívoca e de mim tem respaldo. É uma de suas prerrogativas a defesa e a promoção do lúdico educativo. É sua obrigação manter a estrutura básica, o backbone por onde passam as manifestações festivas acessíveis a todos. Dentro dessa via, que a iniciativa privada, os profissionais do lazer, desenhem seus eventos. Neste quadro, eles podem trazer qualquer porcaria que por ventura esteja em alta no momento. Que os fãs paguem pra paparicar seus ídolos de barro, as excrescências tidas por artísticas tão ao gosto da maioria. Mas não com os meus centavos. Tranqüilize-se, pois, Sr. Alcaide.

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