sábado, agosto 11, 2007

Labirinto

Eu devia ter ficado calado. Tempos atrás escrevi neste espaço uma crônica onde despejava toda a minha frustração diante dos novos atendimentos a distância adotados pela maioria das empresas prestadoras de serviços, em detrimento de seus escritórios locais. Pra pagar minha língua comprida, fui introduzido em uma modalidade mais sofisticada e mais irritante ainda da coisa. Falo do auto-atendimento a partir de menus eletrônicos. Se antes a gente punha à prova os nervos interagindo com um corpo de robóticas telefonistas, agora nem isso.
O fato é que nesses dias perdi meu celular (e também estourei o motor do carro, o banheiro entupiu e queimou a fonte do computador... estou naquelas fases...). Resolvi mudar de operadora atraído pelas aparentes vantagens oferecidas por uma concorrente. Na busca de ajustar-me às novas condições, tentei contato com a empresa. Uma semana. Uma frustrante e inteira semana se passou, perseguindo eu soluções que se escondem no sovaco-do-judas. Uma semana e não consegui falar com ninguém, nem mesmo a Telefonista Robótica, a quem dedico imensurável saudade.
Permita-me agora o piedoso(a) leitor(a) uma pequena mas necessária digressão. A bem da verdade o irritante processo tem início na compra do novo aparelho, ainda no balcão da loja. Como é sabido e notório, sou um aficionado pelas coisas da tecnologia. Adoro “gadgets”. A conseqüência é que a experiência acumulada já não permite deixar-me seduzir por qualquer chip, ficando isso para a massa ainda fascinada por espelhos e contas de vidro. Um celular para mim ainda é... um telefone. Algo em que você fala e ouve. Simples e sem frús-frús. Mensagens de texto (o “torpedo”) é um adendo que ainda aceito no leque de possibilidades do aparelho por reforçar ainda mais sua função precípua (do aparelho): a comunicação à distância. E só.
Pois bem. Você chega à loja e pede ao gentil vendedor uma revista nos celulares disponíveis. Pode apostar sem medo: logo é posto a sua frente uma engenhoca multifuncional que só não traz ainda embutido um frigobar. Você explica ao atencioso comerciário que não precisa daquilo tudo, que quer somente receber e completar ligações. Player de MP3 você já tem um (e bastante sofisticado) e, quanto à câmera digital, você se encontra bem servido com a sua Canon, que - bom que se diga - custou uma nota preta. O que se pretende é um aparelho enxuto e prático. Boca fechada era melhor ter ficado. Isso posto, dardejam-lhe um olhar de tamanho desprezo e desdém que, ali mesmo ao pé do balcão, você começa a se questionar da utilidade de ter nascido. Enfim, de posse do aparelho, você o habilita ao serviço. Até aqui tudo bem. Pra pegar o besta todos os esforços são envidados...
Cumprida a parte fácil, é hora de um “tour” pelo purgatório. Você tenta contato com a empresa para dirimir dúvidas e formatar o serviço ao seu perfil. Dos 4.786 números indicados para suporte ao cliente você consegue contato com apenas uns três ou quatro. Desses, somente um se refere ao seu novo status. Os outros – que funcionam redondinhos – se prestam à venda de pacotes ou ao recebimento de potenciais idiotas, digo, clientes, ainda não fisgados. Mas, extremo júbilo, tem-se um número que funciona. Tudo bem, lá se foram três dias nesse puxa-e-encolhe de ligações, mas, como dizia o imperador romano, “festina lente”, apressa-te devagar...
Faça-se a ligação. A voz etérea oferece um menu de opções gerais, cada uma ativada por um número a ser digitado em seu celular. Vamos lá que a coisa tá andando. Aperta um numero no aparelho. Vamos a outro leque de opções. Digita-se outro numeral. Tudo bem. Não era exatamente o que se queria, mas vamos em frente que atrás vem gente... Outro monte de escolhas e seus respectivos dígitos. Aqui a esperança começa a se esgarçar. Depois do sexto ou sétimo passo, você percebe que se encontra em um labirinto que faz o de Creta parecer uma alameda sinalizada. A essas alturas duvido que alguém ainda lembre como começou. Desista. É bem menos doloroso.
Pedir às operadoras a abertura de representações locais é utopia. Implorar pela volta da Telefonista Robótica também é sonho. De forma que eu gostaria, pelo mínimo, que fosse incluído nos menus mais algumas opções. Algo assim:

- Se você se encontra puto da vida, digite 2. (você tecla e abre-se outro menu)
- Obrigado. Proceda a escolha:

a) Se você deseja mandar todo mundo da empresa a puta-que-o-pariu, digite 1.

b) Se você quer comprar uma bomba e explodir a sede da operadora com todo mundo dentro, tecle 3

c) Se você deseja recomendar ao Diabo o cretino que criou esses menus para que ele cozinhe na caldeira mais quente do inferno por toda a eternidade, tecle 4.

d) Se você deseja contactar o Bin Laden e sugerir nossa operadora como alvo do seu próximo atentado, tecle 6.

54654684341357496843216598786546549 ...Quero todas....

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