segunda-feira, agosto 27, 2007

Mulheres

(crônica publicada originalmente in Gazeta do Alto Piranhas - 08/2007)

Rapaz...O Zé Antonio me coloca em um belíssimo rabo-de- foguete: para essa edição especialíssima do nosso folhetim, devo produzir uma crônica dedicada ao “público de saias”. Pronto! Abriu minha cova. Não que eu acredite que as Meninas não mereçam uma crônica, muito antes pelo contrário. Mas a elas o gênero literário mais adequado não seria a Poesia? Como espremer no exíguo espaço de uma lauda e meia toda a doçura, a aguçada sensibilidade, a competência advinda de uma diferenciada percepção das Coisas e do Mundo, tudo isso muito próprio ao Feminino? Os poetas, sim, conseguem sintetizar esse Muito em poucas linhas, pois a beleza fica mais fácil de ser cantada pela própria beleza, intrínseca aos versos. Claro que um Veríssimo ou Rubem Braga já o fizeram com extrema elegância e clareza, mesmo no apertado espaço de uma crônica. O Braga tem uma dedicada à Mulher que de tão bonita, ao terminar de ler, você tem vontade de largar a sua (mulher) e casar com ele, o Braga. Mas o Braga é o Braga, o Veríssimo é o Veríssimo... E o Paccelli, ai de mim, é somente o Paccelli, esse escriba provinciano...
Mas, fazer o quê? O Zé Antonio tem razão... Se a edição especial do jornal realça a figura de nossas mulheres neste 22 de agosto, Dia da Cidade, ficaria um tanto quanto deslocado um texto sobre, por exemplo, a reprodução dos golfinhos. Vamos às mulheres, então.
Deixa ver... O negócio é começar, pegar o fio da meada. Mas começar por onde?!?!? Uma Mulher nunca é só uma Mulher. Já um Homem é somente um Homem. Dê-lhe uma cerveja, um abridor de garrafas e uma partida de futebol e você terá construído sua Ecologia. Sim, pois nós homens somos seres de uma simplicidade “protozoárica”. Quando Deus nos criou Ele olhou atravessado, coçou a cabeça e pensou: “Huuuummm.... Legalzinho isso aí que fiz... Mas, pôxa, bem que poderia ficar melhor...”. Aí, pra não perder parte do trabalho, ele aproveitou o conceito geral e, a partir de uma costela (a parte que ele acreditou mais bem acabada), criou a Mulher em toda a sua complexidade e sofisticação. Bem que poderia ter “deletado” sua invenção anterior. No fim preferiu manter o Homem. Afinal, a Criação Perfeita, a Mulher, bem que merecia um criado, um valete, encarregado das funções menos nobres, como trocar o pneu. Você tá rindo? Não ria, pois você sabe muito bem que isso é verdade. Vou lhe dar uma prova contundente de nossa dependência. Os piores insultos que alguém pode dirigir a um homem não se refere a ele próprio, mas sim as mulheres que lhe são próximas. Chamar um homem de, digamos, ladrão, pode na pior das hipóteses gerar um bate-boca temperado por alguns inócuos sopapos. Mas experimente olhar na cara de um cara e cuspir-lhe um “filho da puta” ou “corno”... É morte certa. É ressentimento pra vida toda. Percebeu o drama? São insultos indiretos pois a condição sine qua non para se ter um Filho da Puta” é a existência preliminar de uma “mãe puta”. E “corno” sem esposa ou namorada não existe. Se é pejorativo ou não vender o próprio favor ou “pular o muro”, isso já é outra discussão. Por outro lado a mulher a gente insulta por si própria. Quem em sã consciência chega pra uma mulher e diz que ela engordou? Não é viver perigosamente indicar a uma fêmea a evidência de suas rugas e pés-de-galinha? Faça-o e nunca mais durma sossegado, pois o inimigo estará ao seu lado.
Bem que a gente tentou no decurso da História reverter esse quadro. Na Idade Média, por exemplo, queimamos mulheres a três-por-quatro sob a duvidosa alegação de ligação com o Demônio e suas artes. A coisa terminou ficando meio confusa. Desistimos dos fósforos para abordar o problema por outro ângulo. O negócio era reduzir a área de atuação das mulheres no intuito de, assim fazendo, limitar seus poderes. Enfiamos todas dentre de casa, a dirigir o Lar. Uma burrice muito típica dos Homens. Pergunto qual o lugar mais importante de sua vida. Não é o escritório. Não são os bares. A maior parte do nosso tempo passamos em casa. E entregamos a elas o controle absoluto daquele espaço. O tiro saiu pela culatra. E pra não perder o juízo de uma vez e manter intacta nossa presunção de superioridade, criamos o mito do “Sexo Frágil”. Uma manobra psicológica do homem pra esconder sua própria fragilidade e ainda se achar o rei-da cocada-preta, como se as mulheres não percebessem a jogada. Foi a Simone de Beauvoir que muito claramente sacou a coisa quando escreveu que “ninguém nasce mulher, mas torna-se mulher”.
O fato meu caro e dileto Zé Antonio é que esse seu amigo não se encontra a altura de compor um texto que seja fiel à grandeza de nossas Meninas. Imploro sua compreensão e rogo a Deus que preserve sempre os poetas, esses sim, mais que aparelhados a ungir em palavras o ápice da Criação: Elas.


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