quinta-feira, abril 23, 2009

Stevie Ray Vaughan, esse fadista?!?!?!?

(outra repostagem oportuna)
Eu tinha mais ou menos 14 anos (lembro bem, pois acabava de ser inaugurada a Pirâmide de Queóps) quando fuçava sem o menor cuidado e piedade a discoteca do meu avô e da minha mãe. Acho que me construí enquanto músico (péssimo, diga-se de passagem... e não foi culpa dos discos) naqueles tempos. Pois bem. Adorava – dentre tantos - ouvir os discos do "Demônios da Garoa". Ainda hoje, tomando o violão, sou capaz de passar horas desfiando Adonirans...
Do outro lado, comprava meus primeiros LPs com o que conseguia extorquir da mãe, avós e tios-avós. Chamava-me muito atenção - mesmo naquela idade - os vocais dos Beatles e dos Demônios. O mesmo timbre "amassado". A mesma afinação perfeita. Ficava eu meio que sem jeito e guardava pra mim essa impressão... Afinal a Mooca fica bem longe de Liverpool.
De lá pra cá ouvi muita coisa. Mas muita mesmo, sem o menor pudor em intercalar estilos. Mas acho que seriam muito poucos os posters que colocaria na parede de minha sala de som (que ainda nem foi projetada, quiçá construída). Não é questão de reconhecer valores. O problema é esse coração empedernido que trago espremido entre uma tripa e outra. É preciso não sei o quê para sensibilizá-lo. Por exemplo, sou louco por Caetano, adoro o Lennon, idolatro o Leonard Cohen e o Aznavour, tenho quase tudo do Chico Buarque, mas não roubaria um poster dos meninos citados. Engraçado, mas acho que a coisa fica mesmo no terreno nebuloso e muito pessoal do feeling.
Voltemos à parede da sala de som e seus posters. Acho que entrariam no máximo uns cinco... Não por falta de espaço na dita sala já que vai abrigar, dentro outras tralhas, uma bateria completa. Acho que é o coração mesmo que é apertado... Mas, com certeza, lá estariam eles: Stevie Ray Vaughan e Mariza. Próximos na parede e tão próximos na música. Assista a performance dos dois e me diga. Fica alguma dúvida de que eles fazem aquilo por que gostam??? Tá certo, deixa de ser chato(a). Eu sei que clássico, clássico - num e noutro estilo - seria a Amália e, digamos, o Robert Johnson. Mas estamos falando das paredes da minha sala de som e, ora merda, alí mando eu ...
Mas tenhamos paciência que essa sopa psicodélica de letras tem razão de ser. Tem aquele sabor de "eu não disse, eu não disse...???" O legal quando se salta a barreira dos quarenta é que a gente passa se lixar pra certas coisas. O Veríssimo (o filho, não o pai) escreveu certa vez que se pode torcer pelo mocinho contra os índios sem parecer politicamente incorreto. Isso na infância. Depois dos quarenta, também. Pois é... A gente perde as papas da língua. Quer ver? Pois lá vai: O vocal dos Beatles parece e muito com o dos Demônios da Garoa, a Mooca fica bem em cima de Liverpool a depender do ângulo que se olhe, achei "Laranja Mecânica" (o livro) uma bosta, prefiro refrigerante a suco, adoro fumar e creio serenamente na proximidade entre a Mariza e o Stevie Ray Vaughan. Blues e Fado... Fado e Blues... A mesma dor de desgosto... A mesma melancolia... E aí, quando lí um artigo de uma senhora de nome Laura Emerik (que, me parece, labuta no Sunday Sun Times), vi que não estava sozinho no Universo. Sobre a Mariza em determinado momento escreve a articulista:

"…she sings fado … is the blues of Portugal"

Percebeu? “...fado... o blues de Portugal...”
Dona Laura Emerik. Tocasse a senhora pelo menos campainha, colocaria um poster seu em minha sala de som, essa que ainda não existe.

2 comentários:

fernando inacio disse...

otimo assino em baixo!!!!!!!!!!!

Maria Cristina disse...

Eu sei o que é preciso para sensibilizar esse teu "coração empedernido"... Desculpe, mas eu não resisti!