
Nos últimos anos conheci alguns heróis surgidos depois que abandonei as revistinhas coloridas. É o caso de Spaw e Hellboy. Decepcionantes esses personagens. O Spaw, em especial, acho ridículo. Um cara que não conformado em brigar com o mundo inteiro ainda compra uma confusão
com o próprio Belzebú. Ninguem sabe qual é a de Spaw (tem uma vingança no meio também, creio eu...). Só que ele é feio pra caralho e violento até dizer basta (além de mortinho da silva... o cara é uma espécie de zumbi ginasta). Não gosto do caminho que os quadrinhos trilham hoje (raríssimas exceções...Blade é intragável, mas simplesmente ADOREI Constantine). Ontem, coloco no DVD Player o filme "V for Vendetta" ("V de Vingança"), que gira em torno de um personagem mascarado denominado simplesmente de "V". Fico maravilhado com o filme. Confesso que, a despeito de sua criação no início da década de 80, o "V" nunca frequentou minhas coleções. Talvez por não ter sido lançado no Brasil, na época. Não sei. Mas é um personagem FANTÁSTICO. E pelas críticas acerca de sua versão cinematográfica, os irmãos Wachowski (responsáveis pelo roteiro e por cults como "Matrix") conseguiram reproduzir bem o clima da revista. E o James McTeigue (direção) executou com maestria. Não se ambiciona um clássico da Sétima Arte. É despretencioso, então. O cenário é uma Londres sombria e dominada por um regime totalitário, conservador de extrema (ex
tremíssima) direita. Utilizando-se da mídia (a distribuir moralidades e deturpações), do aparato repressor e da própria religião, esse regime (pintado em vermelho e negro se remetendo ao Nazismo) impera sobre uma sociedade apática e submissa. Nessa ambientação, o "V" não luta somente contra um vilão, uma individual personalização do mal, cheio de recursos tecnológicos ou sobrenaturais. O misterioso "V", que se oculta por trás de uma máscara de porcelana, se contrapõe A TODO O SISTEMA. Tá certo que não é um argumento novo. A diferença está na elegância do super-herói mascarado, extremamente culto em sua proposta meio anarquista. Sua dualidade é latente - um Fantasma da Ópera de capa e espadas (no caso, capa e facas). O ator é o Hugo Weaving. O mesmo que encarnou o sábio
elfo Elrond do "Senhor dos Anéis" e o frio Mr. Smith de "Matrix". Por estar o tempo todo por trás de uma máscara, o Weaving dá show com a execução do texto (MUITÍSSIMO BOM) e a linguagem corporal. Gostei também da "mocinha" representada por Natalie Portman. O John Hurt está soberbo no papel do ditador Sutler. Com aquela cara de bebê chorão o Stephen Rea é logo reconhecido no elenco que ainda nos traz outro Stephen, desta feita o Fry ( sim senhor, o do Zeca Baleiro, "por onde andará o Stephen Fry...") fazendo um homossexual homem de TV (sacanagem não é???). Falando em homosexualidade, o filme aborda CLARAMENTE o tema no contexto de um regime de exceção. Na trilha sonora você chega a reconhecer "Garota de Ipanema" e "Corcovado" (com o Stan Getz?). E os efeitos especiais (computação gráfica em sua maioria) são discretos e convincentes. O roteiro é tão legal que dispensa distrações pirotécnicas. A fotografia é divina. Não sou crítico de cinema nem pretendo
sê-lo. Aliás, nutro uma certa piedade em relação aos críticos de cinema. Já pensou a maldição que é você se condenar a nunca relaxar, jamais baixar a guarda diante de uma tela de cinema??? E exatamente por não sê-lo fico muito a vontade pra dizer que amei o "V"... Não é todo dia que - inspirado na Revolução da Pólvora, sec. XVII - um super-herói sai por aí a peitar regimes totalitários, enquanto declama Shakespeare.




ps - tem horas que vc quase acredita que tá vendo o "Another Brick in The Wall"
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