domingo, agosto 13, 2006

V For Vendetta

Reconheço e sempre repito que devo às revistas em quadrinhos minha mania por leituras. Desde muito cedo folheava as páginas coloridas das HQs, rindo das aventuras e desventuras de seus personagens ou perseguindo vilões ombro-a-ombro com os super-heróis. Também muito jovem começo a leitura dos volumes sem as "figuras" - o livro, em si. Já tinha desenvolvido a capacidade de criar uma imagem mental das histórias descritas. Ia do bang-bang de bolso ao Julio Verne. A D. Dione ficava louca com minha relutância em largar as aventuras pelos insípidos volumes escolares. Grandes tempos aqueles. Guardo-os com carinho no coração. Tanto que quem adentra minha simplória biblioteca particular vai dar logo de cara com uma seção na parede dedicada às revistas em quadrinhos. Devidamente protegidas por uma moldura e por vidro, tenho alí algumas lembranças daquela época na forma de edições antigas (um Tarzan de 1969, um Príncipe Submarino de fins da década de 70, dentre outros). Assim, sempre que se lança no cinema algo extraido dos "comics" fico sassaricado para logo ver a fita.
Nos últimos anos conheci alguns heróis surgidos depois que abandonei as revistinhas coloridas. É o caso de Spaw e Hellboy. Decepcionantes esses personagens. O Spaw, em especial, acho ridículo. Um cara que não conformado em brigar com o mundo inteiro ainda compra uma confusão com o próprio Belzebú. Ninguem sabe qual é a de Spaw (tem uma vingança no meio também, creio eu...). Só que ele é feio pra caralho e violento até dizer basta (além de mortinho da silva... o cara é uma espécie de zumbi ginasta). Não gosto do caminho que os quadrinhos trilham hoje (raríssimas exceções...Blade é intragável, mas simplesmente ADOREI Constantine). Ontem, coloco no DVD Player o filme "V for Vendetta" ("V de Vingança"), que gira em torno de um personagem mascarado denominado simplesmente de "V". Fico maravilhado com o filme. Confesso que, a despeito de sua criação no início da década de 80, o "V" nunca frequentou minhas coleções. Talvez por não ter sido lançado no Brasil, na época. Não sei. Mas é um personagem FANTÁSTICO. E pelas críticas acerca de sua versão cinematográfica, os irmãos Wachowski (responsáveis pelo roteiro e por cults como "Matrix") conseguiram reproduzir bem o clima da revista. E o James McTeigue (direção) executou com maestria. Não se ambiciona um clássico da Sétima Arte. É despretencioso, então. O cenário é uma Londres sombria e dominada por um regime totalitário, conservador de extrema (extremíssima) direita. Utilizando-se da mídia (a distribuir moralidades e deturpações), do aparato repressor e da própria religião, esse regime (pintado em vermelho e negro se remetendo ao Nazismo) impera sobre uma sociedade apática e submissa. Nessa ambientação, o "V" não luta somente contra um vilão, uma individual personalização do mal, cheio de recursos tecnológicos ou sobrenaturais. O misterioso "V", que se oculta por trás de uma máscara de porcelana, se contrapõe A TODO O SISTEMA. Tá certo que não é um argumento novo. A diferença está na elegância do super-herói mascarado, extremamente culto em sua proposta meio anarquista. Sua dualidade é latente - um Fantasma da Ópera de capa e espadas (no caso, capa e facas). O ator é o Hugo Weaving. O mesmo que encarnou o sábio elfo Elrond do "Senhor dos Anéis" e o frio Mr. Smith de "Matrix". Por estar o tempo todo por trás de uma máscara, o Weaving dá show com a execução do texto (MUITÍSSIMO BOM) e a linguagem corporal. Gostei também da "mocinha" representada por Natalie Portman. O John Hurt está soberbo no papel do ditador Sutler. Com aquela cara de bebê chorão o Stephen Rea é logo reconhecido no elenco que ainda nos traz outro Stephen, desta feita o Fry ( sim senhor, o do Zeca Baleiro, "por onde andará o Stephen Fry...") fazendo um homossexual homem de TV (sacanagem não é???). Falando em homosexualidade, o filme aborda CLARAMENTE o tema no contexto de um regime de exceção. Na trilha sonora você chega a reconhecer "Garota de Ipanema" e "Corcovado" (com o Stan Getz?). E os efeitos especiais (computação gráfica em sua maioria) são discretos e convincentes. O roteiro é tão legal que dispensa distrações pirotécnicas. A fotografia é divina. Não sou crítico de cinema nem pretendo sê-lo. Aliás, nutro uma certa piedade em relação aos críticos de cinema. Já pensou a maldição que é você se condenar a nunca relaxar, jamais baixar a guarda diante de uma tela de cinema??? E exatamente por não sê-lo fico muito a vontade pra dizer que amei o "V"... Não é todo dia que - inspirado na Revolução da Pólvora, sec. XVII - um super-herói sai por aí a peitar regimes totalitários, enquanto declama Shakespeare.

ps - tem horas que vc quase acredita que tá vendo o "Another Brick in The Wall"

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