terça-feira, dezembro 19, 2006

Votos

Pois é.. Semana próxima e abre-se o curral das renas. Natal, Reveillon e coisa e tal. Pra variar meu humor não se encontra lá essas coisas. Igual a um pisca-pisca só que com os intervalos de escuro se tornando mais largos. Antes que desande de vez, deixo aqui aos amigos e amigas (e aos que lhes são caros) os meus votos de um respandecente Natal e um Reveillon ofuscante a prenunciar um 2007 transbordante de coisas boas. No meu caso, essa crônica - que logo reproduzo - publicada em 2004 quando ainda colunista em um jornal local, retrata bem minha birra com o período.
grande e nevado abraço
Paccelli Gurgel (Tay Pan / Gandrei Gan)

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MAL-HUMOR DE NATAL

Sabe qual é cruz do cronista? A sazonalidade. Aquilo de ter o dia exato de sair a crônica. E a coisa se faz mais mórbida ainda quando calha o dia em alguma data tida por especial. Aí, não tem outra: o mote do texto tem de ser referir ao característico dia. Por exemplo, o Natal. Se os dias 24 ou 25 de dezembro inventam de se fazer as caras no dia da edição do folhetim, valham-me os deuses, o texto vai ter de sair cheirando a panetone ao som de Jingle Bells. E não tem choro nem vela. Seu espaço no jornal deve vir iluminado como uma árvore de Natal. Até aí tudo bem, quando se está para a coisa. O bicho começa a pegar quando desde o inicio do mês você está sentado sobre a bunda a espera do tal “espírito natalino” que, sabe-se lá onde se enfiou, resolveu não te dar as fuças este ano. Mas, não importa, o texto tem de sair. E esparramando neve por todas as beiras.
E se você, cronista, se sente “naqueles dias”, transbordando temas palpitantes que fervendo no caldeirão do juízo, escorrem pelos dedos e explode no papel, pode baixar a bola. Deixa pra outra semana, pois essa vai ter de ser de Papai Noel. Pois é. Essa tem de ser uma crônica natalina. Com ou sem Espírito de Natal. Juro que estou tentando desde manhãzinha. Na última tentativa a coisa ficou tão piegas que o segundo parágrafo quase que me faz atirar o almoço completo na tela do micro... Deu tempo deletar o troço e evitar o vexame.
Comecei então mais uma versão, desta vez no intuito de por à tinta o real estado de ânimo do escrevinhador nestes barbados dias de Noel. Pronto o texto, fui à revisão e logo no parágrafo inicial resolvi dedicar tudo à lixeira. Esse também não dava pra publicar. Não ficou muito legal aquela parte de montar um churrasco de renas ao som de pandeiros, surdos e tamborins devidamente armados do couro das finadas puxadoras de trenó... Desagradável também a sugestão de processar o velho Noel por invasão a domicílio, dada sua mania de invadir furtivamente a residência alheia na calada da madrugada... Não. Definitivamente aquela não seria uma crônica ideal para a data, por mais que ela reflita meu homicida estado de humor. De volta ao teclado então...
Me vem a cabeça repetir uma das crônicas antigas. Meus quase três leitores não vão lembrar mesmo. E, aliás, Natal é sempre a mesma coisa. Presentes, abraços maquiavélicos, luzinhas piscando e genocídio de perus. Que por sinal devem ser, os perus, os mais felizes da festa por não ter de ler as mensagens cretinas que te enviam naqueles cartões vendidos no quilo nas lojas 1,99. Felizes também os chineses que trabalham e ganham dobrado a fabricar quinquilharias que nós, os ocidentais, compramos aos montes para presentear uma porção de gente que, lá no fundo, gostaríamos mesmo era que recebesse uma caixa de explosivo plástico envolvida em papel de seda com um cartãozinho “...seu Natal vai ser um estouro”. Não vai dar. Venho repetindo crônicas faz um tempão e o Zé Antonio já percebeu...
Vamos fazer o seguinte: te prometo, caro leitor, escrever no próximo Natal, algo, digamos, bem natalino... Enquanto isso você vai ter de ir se conformando com o meu mais sincero desejo de que disponha de um excelente Natal... Enquanto isso dê-me licença... Vou torturar o peru antes de matá-lo em definitivo.

(Publicação original in Gazeta do Alto Piranhas, dezembro de 2004)

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