quarta-feira, abril 11, 2007

Digitando Datilografia

São tempos de vacas top models esses que correm... Bovinos magros e bolsos esquálidos me forçam a recorrer às estantes onde guardo antigas leituras selecionando aquelas que o tempo pode emprestar um ar de certa novidade no momento da releitura. Separo um monte já que nem tão logo poderei me dedicar ao saudável esporte de caçar livros em lojas virtuais, comprando-os aos pacotes. Desde ontem que corro as páginas d“A Irmandade da Rosa” (The Brotherhood of The Rose, David Morrell), uma coleção de corre-corres, assassinatos mirabolantes e conspirações de alto escalão, variantes que fazem a festa de qualquer romance de espionagem. Publicado em 1988, logo foi levado às telas onde Robert Mitchum e Peter Strauss faziam um show a parte. Mas não pretendo aqui a crítica literária ou cinematográfica da obra do Morrell. É que chegando em determinado momento da narrativa me deparo com um texto no mínimo estranho para os dias que correm. Tão acostumados estamos com a internet, com a rede de computadores que reduziu o mundo a um imenso e barulhento cybercafé, que o trecho choca por sua obviedade envolta em ares de grande descoberta... Óbvio hoje. Mas vinte anos atrás??? Na narrativa é chegada a hora em que agentes secretos tentam se infiltrar em um computador de determinada agência governamental em busca de obscuros arquivos, depois de tomar a senha de um assustado funcionário encharcando-o com sódio-pentotal ( o famoso “soro da verdade”). Olha o texto:

...”no quarto, Érika pegou e telefone e digitou a seqüência de números que Parker tinha mencionado. Essa seqüência a pôs em contado com a ADN. Ouviu o bip do telefone. O computador respondera ao número, esperando instruções... esse método de lidar com a máquina fora criado para permitir um eficiente intercâmbio de dados a longas distâncias. O equivalente de Parker em San Diego, por exemplo, não tinha de viajar até Washington para usar o computador da ADN, nem tinha de entrar em contato com Parker para explicar o que necessitava. Tudo o que tinha a fazer era telefonar diretamente para o computador. O método era simples e seguro, mas para fazê-lo funcionar era preciso conhecer os códigos.”

Já pensou?!?!?!? Rapaz, quando cheguei nessa parte fiquei de queixo caído ao perceber que houve um tempo em que a rede de computadores era realmente uma novidade e que para o grande público (que ainda nem tinha micro em casa) a linguagem deveria ser essa mesma para explicar o fenômeno. E era SEGURO, já pensaram?????? Respirei fundo e continuei a leitura até quase sofrer uma síncope com o trecho abaixo:


...”Parker explicou que o computador não soltaria a informação a não ser que recebesse a senha...Foi o que ela DATILOGRAFOU...”

Perceba: Parker não falou em DIGITAR a senha ... Parker orientou a se DATILOGRAFAR a dita. Curioso é que se você voltar ao primeiro fragmento de texto, lá em cima, vai perceber que alguem DIGITOU algo ao TELEFONE.. Era permitido DIGITAR ao telefone. Mas o micro ainda lembrava muito uma máquina Olivetti...
Mesmo que a coisa caia sobre os ombros do tradutor(a), é simplesmente CHOCANTE pensar que alguém poderia “datilografar” algo no teclado de um micro. Mas era o que Parker fazia... “datilografava”...
Mais que moderninho, a leitura me faz sentir meio que “old fashion” ao perceber que vivi plenamente um tempo em que se “datilografava” um documento numa máquina mecânica que estalava e soava campainhas... Me senti solidário a Parker e aos agentes envolvidos na trama.

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