segunda-feira, maio 28, 2007

O Som Escrito

Retiro de "O Mogol" de Thomas Hoover, romance histórico bem ao estilo da Saga Asiática de James Clavell. Aqui, um perplexo alaudista europeu - meados do sec. XVII - se perde em divagações ao assistir a peformance de um citarista indiano e suas ragas etéreas. Poucas vezes um autor foi mais feliz ao usar de palavras para delinear sons...Quem já ouviu uma cítara indiana em ação sabe do que se trata aqui.


"...Uma nota tremulava em existência, saída de algum ponto de partida indefinido, depois deslizava pela escala através de um arabesco sutil enquanto ele (o citarista) esticava a corda de tocar diagonalmente sobre um traste, manipulando-lhe a tensão. Por fim, o som se dissolvia, desaparecendo em seu próprio silêncio. Cada nota da melodia estranha, se ela podia ser chamada de melodia, era primeiro explorada amorosamente por seu próprio caráter, abordada por baixo e por cima ao mesmo tempo, como se fosse um brilhante prêmio em exibição. Só depois de ter sido sutilmente bordada tinha permissão de entrar na melodia, como se a canção fosse um colar a ser montado com uma pérola de cada vez, e só depois de cada pérola ter sido cuidadosamente polida. A tensão de alguma vaga indagação melódica começou a crescer, sem qualquer indicio de resolução. Na intensidade emocional da busca assombrosa, a passagem do tempo, repentinamente, deixara de existir..."

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