
Foi assim desde que me entendo por gente. Minha mãe nunca deixou passar o fato de, ainda a mijar nos coeiros, eu preferir a noite ao dia. Um notívago de primeira idade. Dormia descaradamente o dia inteiro só para ter o prazer de passar a noite acordado, berrando a plenos pulmões a atenção alheia. A diferença é que agora, barba por fazer, me é perfeitamente dispensável a companhia de quem quer que seja. Desde a adolescência quero as madrugadas só pra mim. É mergulhado no limpo silêncio delas que me apanho funcionando melhor, o que me levava a varar noites debruçado sobre os livros do colégio. Ou mesmo acordado as voltas com a literatura, completamente envolvido por alguma narrativa, até ser surpreendido pelo lume matinal que se filtrava pelas telhas de vidro da casa dos meus pais a anunciar um indiscreto e não almejado amanhecer.
E se não era um dos momentos mais agradáveis do baile o seu fim? A regra era só sair da festa depois que o homem do trombone guardasse o instrumento. E aí me via peregrino, arremedo de boêmio, a caminhar pelas ruas desertas transido de uma sensação estranha de plenitude. E nunca, mas nunca mesmo, voltava direto pra casa. Por vezes passava no Mercado Central só pra ver a montagem das barracas e tarimbas enquanto degustava aquela sopa que só encontramos nos mercados e feiras, de madrugada, o que talvez justifique seu inigualável sabor.
Mas, perdoe-me o leitor(a) generoso(a), se deixei passar a impressão de hora asséptica de gente. Longe disso, toda uma fauna pulula neste peculiar habitat. Menos óbvia, bem mais discreta que os espalhafatosos que eclodem de suas tocas no abrir dos expedientes tidos por normais. São vigias noturnos no seu insone mister, furtivos casais a se beneficiar da discrição das sombras, bêbados e boêmios a dividir a rua com os predadores de duas pernas, estes últimos, perigosos animais a devorar incautos. Só não os percebem os remelentos olhares dos que dormem...
Ainda me atraem as madrugadas... Continuo a correr atrás delas. Da adolescência pra cá o que mudou mesmo foi a tática traçada para a captura. Na época pegava o bicho de frente... Não dormia enquanto não o peitava. Agora, a maturidade obriga um primeiro repouso para agarra-lo pelo rabo, já no fim. Mas estou sempre lá, como o poeta Cazuza, esperando “o mundo inteiro acordar, pra gente dormir”...
E se não era um dos momentos mais agradáveis do baile o seu fim? A regra era só sair da festa depois que o homem do trombone guardasse o instrumento. E aí me via peregrino, arremedo de boêmio, a caminhar pelas ruas desertas transido de uma sensação estranha de plenitude. E nunca, mas nunca mesmo, voltava direto pra casa. Por vezes passava no Mercado Central só pra ver a montagem das barracas e tarimbas enquanto degustava aquela sopa que só encontramos nos mercados e feiras, de madrugada, o que talvez justifique seu inigualável sabor.
Mas, perdoe-me o leitor(a) generoso(a), se deixei passar a impressão de hora asséptica de gente. Longe disso, toda uma fauna pulula neste peculiar habitat. Menos óbvia, bem mais discreta que os espalhafatosos que eclodem de suas tocas no abrir dos expedientes tidos por normais. São vigias noturnos no seu insone mister, furtivos casais a se beneficiar da discrição das sombras, bêbados e boêmios a dividir a rua com os predadores de duas pernas, estes últimos, perigosos animais a devorar incautos. Só não os percebem os remelentos olhares dos que dormem...
Ainda me atraem as madrugadas... Continuo a correr atrás delas. Da adolescência pra cá o que mudou mesmo foi a tática traçada para a captura. Na época pegava o bicho de frente... Não dormia enquanto não o peitava. Agora, a maturidade obriga um primeiro repouso para agarra-lo pelo rabo, já no fim. Mas estou sempre lá, como o poeta Cazuza, esperando “o mundo inteiro acordar, pra gente dormir”...
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