domingo, junho 15, 2008

O Clã e o Brasil (escrito em um momento de tempestuosa fúria)

São exatos 22:34 enquanto escrevo. O notebook ploogado na net me permite esse post já que cá estou eu longe da “sede”, visitando minha mãe aqui nas terras de Mossoró. Ocorre que a casa da D. Dione fica exatamente defronte à Estação das Artes, o arraial das juninas mossoroenses. Na verdade é atravessar dez metros de rua e já se encontrar na calçada do dito espaço. São dois palcos (principal e secundário) onde se revezam as atrações. Em sua imensa maioria, esses ditos atrativos se remetem ao forrozinho vagabundo de bandas de quinta do naipe de Forró Sacode, Aviões, Balanço de Menina e outras bostas. Salvam-se um ou dois. É o caso do Flávio José. E é o caso das meninas, aliás, da família Clã Brasil que nesse exato instante toca quase em cima de nossa calçada. De imediato o que chama atenção é a extrema simpatia e beleza das moças. Antes que o coração engrene a bater rápido a respaldar suspiros , essas mesmas senhorinhas oferecem o ritmo para a taquicardia: baião de primeiríssima qualidade, enlevante, arrebatador envolvido por uma execução perfeita. Ternura nas vozes bem colocadas mas sem perder nunca a firmeza das batitas extraidas do mais fundo dos tabuleiros, das trilhas inóspitas da caatinga. Uma palavra: tocante
Tudo isso está lá agora no palco... SECUNDÁRIO. Sim no palco secundário. É, pois o palco principal está todo engalanado pra receber o forró Balanço de Menina. O Clã Brasil está no palco SECUNDÁRIO... O Balanço de Menina toca daqui a pouco no palco PRINCIPAL. Distando uns cem metros um do outro pode-se perceber certa aglomeração lá no principal. Aqui, defronte a casa de mamãe, umas poucas pessoas assistem e dançam ao som do Clã. UMAS POUCAS MESMO. Muito poucas mesmo. Com certeza, o outro lado deverá estar lotado daqui a minutos. O Balanço de Menina vai estar lá.
Meu Deus... isso não é um país. É o cú do mundo. Êita povinho de merda...Êita povinho vagabundo, descartável, desprezível, fedorento, burro, feio, um monte de carne amorfa aproveitavel para mão-de-obra barata e outras atribuições impublicáveis. Morro de arrependimento por um dia ter perdido um tempo enorme nas ruas e praças em utópicas passeatas de “poder para o povo”.... Uma porra, o poder para o povo. Esse povinho meleca está muito bem comendo uma ração diária que lhe permite manter sua mediocridade respirando, o que não se demonstra um gasto inenarrável, irreversível e completo de oxigênio por se constituir a dita e porca massa em força de trabalho. Gostaria que os deuses de qualquer Olimpo me premiassem com a grana necessária para passar ao largo desses redutos de nojentas criaturas e suas músicas sebosas e inconsequentes, sua alegria pífia, plastificada e flatulenta.
O Clã Continua tocando. Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga, João do Vale, Zé do Norte, Gilberto Gil, Vandré. O rítimo não permite ficar parado. Os arranjos são super elaborados mas perfeitamente compreensíveis. E só tem uns gatos pingados lá olhando. Pudera. O Clã é bom gosto. O Clã é alegria. O Clã é gente bonita. O Clã é competência. O Clã Brasil é a dignidade e a altivez de uma cultura em extinção, assassinada pela indiferença, pelo descaso de uma população retardada e néscia, embriagada por valores suinos espargidos a granel por uma Mídia indecente, venal, corrupta e dirigida por gangsters.
Agora me enche o quarto onde furioso escrevo os acordes e as vozes maravilhosas das meninas destrinchando o “Baião da Penha” como numa oração de esperança. Esperança vã e pífia pois que a salvação de tudo fica nas mãos imundas do povo. Esse mesmo que centenas de anos atrás era percebido em toda a sua insensatez por Giodanno Bruno, que tascou:
“...é com puerilidades que se move essa estúpida besta chamada povo...”
E olha que na época do Giordanno ainda não havia o Balanço de Menina, o Cavaleiros do Forró e outras nojeiras.
Mas me deem licença. Vou deitar-me na rede e continuar a ouvir o Clã. Tenho de fazê-lo. Bebê-lo com avidez. É que em breve volto as margens do Açude Grande. E nesse arraial a atração principal é o Bonde do Maluco. Rogo desesperado aos deuses do bem que não permitam que me arrastem pra grandessísima bosta que vai ser, um sacríficio perdido no altar da socialização.

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